Penetrante e maravilhoso é o contraste entre o corpo do cristão e seu conteúdo. “Temos, porém, este Tesouro” – a luz de Deus acesa em nós – “em vasos de barro”; vasos de barro ou argila; assim como jesus recriou os olhos do homem cego, fazendo e aplicando o barro (João 9:6). Que tesouro os vasos contém! Nossos corpos gastos são um tributo singular à grandeza de Deus. Pois veja os vasos. Um corpo frágil, um julgamento falível, um testemunho imperfeito, um caráter sujo pelo pecado, uma vida atormentada.
E por que? “Para que a excelência do poder” – o excesso, ou abundância, do poder, a maravilha dele – “seja de Deus, e não de nós” (II Cor. 4:7). “Sr. Moody, tenho observado sua missão cuidadosamente; e a obra deve ser de Deus; pois não há nada no senhor para justificá-la”. Se Deus tivesse enviado anjos para pregarem o Evangelho, os homens, atônitos com o resultado com os resultados, naturalmente teriam atribuído as maravilhas operadas aos agentes celestiais – sem pecado, inesgotáveis, imortais, radiantes; mas causa e efeito com um homem proferindo a verdade são tão ridiculamente sem relação, que ninguém pode jamais duvidar, que ninguém pode jamais duvidar, ou jamais duvida, da fonte do poder. “Uma mão amortecida pode assinar um documento de inestimável valor” (Cecil).
Pressão
Assim Paulo dá um quadro gráfico da indestrutível resistência da vida vencedora; e o primeiro quadro é a cruciante pressão de uma vida sob grande pressão. “Em tudo somos oprimidos, mas não angustiados”: isto é, Somos comprimidos, mas não esmagados; inimigos pressionam de cada lado, mas a polícia Celestial abre um caminho. Mas a lei da pressão é uma das estranhas revelações da vida. John Spruell, de Glasgow, que foi aprisionado em Bass Rock, nos dias de Claverhouse, tinha esta dívida: – Sub pondere cercos – “Eu cresço sob peso”; toda a vida é um relógio, cujos movimentos são pela mola real.
Um professor dizia constantemente aos seus alunos como, em seu jardim – “eu pensava, eu pensava”; até que um deles, pensando no quão maravilhoso deveria ser o jardim, olhou por cima do muro e viu um pequeno quintal. “É esse o seu jardim?” ele disse, “este canteiro?” “Sim,” disse o professor, “só isto; mas veja como ele é alto”. Podemos ser confinados, mas nunca cobertos por cima. Satanás pode levantar muros ao nosso redor, mas é lhe impossível construir um teto.
Perplexidade
Mas agora as circunstâncias hostis se aguçam. “Perplexos mas não angustiados”; isto é, desnorteados, mas não surpreendidos (Stanley); sem um caminho, mas não sem um caminho obscuro (Rotherham); os caminhos encontram uma saída finalmente. Imagino que Paulo tivesse mil perplexidades, e desapontamentos desanimadores; mas acho que o pior era interno. “Oh, miserável homem que sou; quem me livrará do corpo desta morte?” A consciência do pecado se aprofunda com a santidade. Como Robert Chapman expressa: – “Mantenham um espiral apertado, e ele resiste: assim também só resistindo à carne é que conhecemos plenamente nossa culpa.
A iniquidade aberta do pior,” ele continua, “é como nada comparada com a iniquidade encerrada no melhor. O conflito mais agudo existe na alma daquele cuja vida é a mais inculpável.” Todavia na realidade, não precisamos nunca desesperar, e nunca desesperamos. A graça todo-poderosa sempre é nossa deste lado da sepultura. Paulinus, o qual sob o Império Romano renunciou o paganismo e abraçou o cristianismo, não apenas depôs sua espada, mas abriu seus imensos celeiros aos pobres e absolveu seus devedores. Sendo louvado por isto, ele replicou: – “Ah! Eu estou apensa no início da perfeição cristã. Com lutador, eu me despojei para a luta; mas ainda me resta combater o bom combate, ganhando domínio sobre mim mesmo. Eu renunciei meus deuses, mas ainda me resta conquistar minhas paixões e purificar meu coração”.
Perseguição
Novamente a figura aguça com circunstâncias ainda mais hostís. “Perseguidos, mas não desamparados”: isto é, com perseguidores ardentes em nossa trilha, mas não deixados como presas deles; perseguidos, mas não abandonados; perseguidos, mas não desertados (Alford). Todo homem que luta pela causa de Deus, terá os inimigos de Deus, e eles são inumeráveis: perseguição é a marca-registrada do Céu.
Mas apenas está lá sempre, mas a perseguição tem um poder peculiar de nos lançar sobre Deus. O opróbrio de Cristo são riquezas maiores do que tesouros deste mundo. Como disse George Macdonald: – “Só é um homem forte aquele que é forte em fraqueza; só é um homem corajoso aquele que, reprimindo o temor, ainda enfrenta o inimigo; só é um homem corajoso aquele que, sendo tentado pelo bom, ainda se abstém.”
Derrubados
Mas a figura se torna mais aguda à medida em que as circunstâncias escurecem. “Derrubados, mas não Destruídos”; isto é, prostrados mas não aniquilados; transtornados, mas não vencidos: a queda, a caída, não é mortal.” “Eu não morrerei, mas viverei”, é o grito triunfante da igreja, “e declararei as obras do Senhor” (Salmos 118:17). É o quadro de um homem atirado ao solo por seu inimigo, e esperando o golpe fatal; mas simplesmente indestrutível, ele retorna à luta novamente. Paulo sabia o que era ter um “espinho na carne”, e a recusa de Deus em retirá-lo. “porque o justo” – sempre na escritura, é mais do que um mero crente: um homem não só justo por imputação mas também por consagração – “cai sete vezes e levanta sete vezes novamente” (Prov. 24:16).
O Bispo Wilberforce diz: – “ Eu aprendi a boxear um hábil pugilista. Naturalmente, ele poderia fazer o que quisesse comigo por meio de seus punhos, e eu me lembro que quando recebi um golpe duro bem no meio do meu rosto, reagi selvagemente. Ele abaixou suas mãos, levou-me à parte, e me ensinou algo que nunca me esqueci. Ele disse: – ‘Sr. Wilberforce, sempre que o senhor receber um soco, não bata agressivamente, mas dê um passo atrás, e apenas mantenha suas mãos para cima, e pergunte a si mesmo – o que eu estava fazendo errado, e por que recebi aquele golpe?’ Eu tenho ensinado esta lição uma e outra vez aos jovens, e mais do que um deles têm me agradecido por ela. “Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o Senhor o sustém com sua mão” (Sal. 37:24).
Morrendo
É questionável se algum de nós se apropriaria das últimas e tremendas palavras deste cântico de triunfo, com sua gloriosa narração de negativos – não esmagados, não desesperados, não desamparados, não destruídos – palavras finais aplicáveis em sua plenitude, talvez não somente aos apóstolos e mártires. “Sempre levando em nosso corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” – como Paulo, apedreijado quase até a morte: ainda se levantando, como um ressurreição: “pois nós que vivemos estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus” – um perigo de vida constante, um perpétuo viver em suspense – “para que a vida de Jesus também se manifeste em nossa carne mortal” – Nossa porcelana fina, nosso vaso de Barro quebradiço: sempre um morrer, mas nunca uma morte; constantemente em perigo, mas escapando constantemente.
Mas há um sentido no qual todos podemos nos apropriar destas palavras tremendas. O Bispo Hand’ey Moule diz: – “Um amado e honrado amigo meu, agora realizando um grande trabalho para Deus ( e que ele possa continuar por muitos anos, se nosso Mestre demorar), contou-me como em sua vida jovem estas cinco palavras, ’Cristo, que é a nossa vida’, se tornaram nova vida para ele. Quando voltava de um culto missionário que havia dirigido, estas simples e conhecidas palavras passaram através de seu a alma num daqueles momentos de revelação que somente Deus pode explicar. ‘Enquanto dava dez passos, minha vida foi transformada, ele disse: ‘tão maravilhosa foi a descoberta de que o Senhor Cristo não é apenas um Libertador, Amigo, Rei, mas a própria Vida, Vida central, inexaurível, surgindo dentro do meu coração, crescendo para a eternidade’.”
Triunfo
Assim aprendemos como os grandes santos de todas as épocas ficaram firmes na provação. Um exemplo extraordinário, contado por um ministro australiano (“Religious Digest,” Agosto, 1942), mostra inresistivelmente como Deus pode moldar o pior para o mais elevado. Uma moça de dezoito anos, em Melbourne, foi atacada de uma doença horrível, e o médico disse que para salvar-lhe a vida, precisava cortar os pés dela. Ambos foram tirados. Depois a doença prosseguiu, e as suas pernas foram cortadas até os joelhos, e como avançasse mais, foram cortadas até o tronco. Depois irrompeu nas mãos dela. O primeiro braço foi tirado até o ombro e o segundo também, e quando (ele diz) eu vi aquela mulher, Srta. Higgins, tudo o que havia restado dela era um tronco, nada mais do que um tronco.
Durante quinze anos ela ficou assim. Mas um dia veio-lhe uma inspiração. Pediu a um amigo carpinteiro que fôsse vê-la, e ele fixou um bloco em seu ombro e uma caneta tinteiro (tipo pena de cisne) no outro, e ela começou a escrever cartas. E lembre-se, quando você escreve, você escreve com seu braço. Ela tinha que escrever, e como na havia junta, ela escrevia com todo o corpo. Pode haver calígrafos inteligentes neste lugar, mas vou me comprometer em dizer que nenhuma mulher poderia escrever uma carta tão linda do ponto de vista da caligrafia como aquela mulher escreveu em minha presença, nem mesmo a metade do que ela escreveu, mais ou menos como calcografia; e ela havia recebido de 1.500 a 1.600 cartas de pessoas que foram levadas a Cristo por meio das cartas que ela havia escrito daquela forma naquele quarto. Eu disse a ela: “Como você faz isto?” “Aqueles que crêem nEle, rios de água viva fluirão do seu interior”, e eu crí nEle, e isto é tudo.
D. M. Panton
David Morrieson Panton (1870-1955) foi pastor de Surrey Capela, em Norwich, Inglaterra, onde sucedeu Robert Govett. Ele foi o editor (1924-1955) da revista The Dawn, um escritor de livros e folhetos diversos, e um líder britânico entre aqueles que perseguem proféticos estudos. A partir de 1941, Panton renunciou completamente Capela de Surrey, Norwich. À medida que envelhecia, ele sentiu o modo do país e os tempos mudaram, por isso houve uma redução de leitores da madrugada. Paternoster assumiu no lugar de Charles Thynne como os editores da revista. Panton morreu em 20 de Maio de 1955; ele tinha preparado a edição final da sua revista, que deixou após sua morte.