A fé é necessária à salvação porque a Escritura nos diz que as obras não podem salvar.
Contarei uma história bem conhecida, para que nem os mais simples deixem de entender o que quero dizer. Certo dia um pastor estava a caminho do lugar onde ia pregar. Seu caminho levou-o pelo alto de um monte, e abaixo dele via-se as aldeias adormecidas em sua beleza, os campos de trigo imóveis na primeira luz do sol. Ele, porém, não prestou atenção nisso porque viu uma mulher saindo da porta da sua casa que, ao vê-lo, veio em sua direção com a maior ansiedade e disse:
— Meu senhor, tem algumas chaves aí? Eu quebrei a chave do meu armário, e preciso tirar algumas coisas.
Ele respondeu:
— Eu não trouxe nenhuma chave. — Ela ficou decepcionada, porque esperava que alguém tivesse alguma chave.
Mas ele continuou: — Imaginemos que eu tivesse alguma; é bem possível que ela não encaixasse na fechadura, e a senhora ficaria sem poder tirar as coisas que deseja. Mas não desanime; espere por alguém outro.
Entretanto, no desejo de aproveitar a situação, ele perguntou:
— A senhora já ouviu falar da chave do céu?
— Oh, sim — ela disse, — já vivi bastante tempo e fui à igreja o suficiente para saber que, se trabalhamos bastante e conseguimos o pão com o suor do rosto, tratarmos bem nossos próximos e nos comportamos, como diz o Catecismo, de modo humilde e reverente diante de todos os que são melhores do que nós, e se fazemos nossa obrigação na estação da vida em que Deus se agradou de nos colocar, e fazemos nossas orações regularmente, seremos salvos.
— Ah — ele retrucou, — minha senhora, essa é uma chave quebrada, porque a senhora quebrou os mandamentos; a senhora não fez todas as suas obrigações. A chave é boa, mas a senhora a quebrou.
— Por favor, senhor — disse ela, vendo que ele entendia do assunto e com um olhar assustado, — o que foi que eu esqueci?
— Bem — respondeu ele, — a senhora esqueceu a coisa mais importante, o sangue de Jesus Cristo. A senhora não ouviu falar que a chave do céu está presa ao seu cinto? Quando ele abre, ninguém pode fechar; quando ele fecha, ninguém pode abrir. — Explicando melhor para ela, ele continuou: — E Cristo e só ele quem pode abrir o céu para a senhora, e não as suas boas obras.
— Mas, senhor pastor — exclamou ela, — quer dizer que nossas boas ações são desnecessárias?
— De forma alguma, quando juntas com a fé. Se a senhora crê primeiro, pode fazer tantas boas ações quantas quiser. No entanto, se a senhora crê, nunca mais vai confiar nelas, porque se o fizer, a senhoras arruinou-as, e não são mais boas ações. Faça quantas boas obras quiser, mas coloque sua confiança totalmente no Senhor Jesus Cristo; se não o fizer, sua chave jamais abrirá a porta do céu.
Portanto, meus ouvintes, precisamos ter fé autêntica porque a velha chave das obras foi tão quebrada por nós que jamais entraremos no paraíso com ela. Se alguém aqui acha que não tem pecados, vou ser direto: você está se iludindo, e não há verdade em você. Se você imagina que por suas boas obras entrará no céu, jamais houve ilusão mais fatal. No último grande dia você descobrirá que suas esperanças eram inúteis, e que, como folhas secas das árvores no outono, suas ações mais nobres serão levadas pelo vento para o fogo onde você mesmo sofrerá para todo o sempre. Preste atenção em suas boas obras; faça-as depois de crer, mas lembre-se, o meio de ser salvo é simplesmente crer em Jesus Cristo.
C. H. Spurgeon
C. H. Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista mensal chamada “Sword and Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente na área devocional.
Fonte: http://www.charleshaddonspurgeon.com