Os anos dramáticos da perseguição haviam chegado. A igreja estava encurralada, entrincheirada por forças hostis, por violência desumana. Havia chacina e banhos de sangue por todo o império romano, onde vários crentes eram mortos e trucidados. Eles eram queimados em praça publica, comidos por leões e pisoteados por touros. Os imperadores morriam e eram sucedidos, um a um, mas a perseguição não cessava.
Todos os apóstolos já estavam mortos quando o apóstolo João é deportado, já velho, para a ilha de Patmos – talvez, uma tentativa de eliminar o último representante do cristianismo. Enquanto o imperador tentava destruir a Igreja, Deus estava a edificando. Enquanto João estava cercado por águas, isolado, reduzido a uma solidão imperiosa, enquanto todas as portas se fecharam para ele, Deus lhe abriu uma porta nos céus. Foi em um dia de domingo que Ele teve a visão. Uma voz soou como trombeta por detrás dele, dizendo: “o que vê escreve neste livro”. Quando ele foi ver quem era, ela não viu quem falava, mas viu 7 candeeiros e 7 castiçais e um semelhante ao filho do Homem. A única maneira de o mundo ver a Jesus é por meio da Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo. A Igreja revela a Cristo. É por isso que congressos como este são tão importantes, pois mostra a unidade do povo de Deus e a beleza do evangelho de Jesus Cristo.
Quando João vê o filho do Homem ali, ele percebe que não é mais o Cristo fraco do Calvário, com o rosto sujo de sangue, com a voz embargada pela sede, cujos olhos estavam inchados, cujas mãos estavam rasgadas pelos pregos e cujos pés estavam cravados na rude cruz. Mas Seus olhos brilham como chamas de fogo, Seu rosto brilha como o sol, Seus pés são como o bronze polido. Ele é o Cristo Vencedor, que venceu a mote pela sua ressurreição, que governa a Igreja e que a tem em Suas poderosas mãos. Diz a escritura que João caiu como morto aos Seus pés com essa visão. Mas Deus o levantou e disse que Ele esteve morto, mas que agora vive! Nós adoramos um Cristo vivo que reina pelos séculos dos séculos.
Se não percebermos a presença do Cristo da glória entre nós, uma conferência nada mais é que um encontro religioso.
A Bíblia diz que Jesus não está só dentro da Igreja, mas andando dentro dela. Ele anda por meio das igrejas para nos instruir, consolar, exortar, vigiar e nos fazer grandes promessas. Se não percebermos a presença do Cristo da glória entre nós, uma conferência nada mais é que um encontro religioso. Não são as pessoas ilustres, não são os preletores escolhidos com tanto carinho, nem as orquestras e as bandas que nos brindam com músicas tão boas… Somos atraídos para eventos como esse pela única consciência que Jesus Cristo, O Senhor da glória, está entre nós.
Nas sete cartas, Jesus sempre repete: “Eu conheço”. Ele anda entre nós para conhecer nossas obras e nossas vidas. Ele conhece seus atos, conhece sua vida, seu casamento, o modo como você trata seu marido, filhos e pais. Ele conhece o que sua igreja não conhece. Ele conhece a intimidade e os segredos do seu coração. E não se deixe enganar pelo desempenho e pela beleza de nossos gestos, Ele conhece a intimidade de nossa alma e os segredos de nossos corações.
Para igreja de Esmirna Ele diz que conhece sua tribulação. Jesus conhece sua dor, suas lágrimas, suas dores, suas angustias, sua necessidade e os seus desafios. Já para a igreja de Pérgamo, Ele diz que conhece o lugar onde eles habitavam, onde estava o templo de satanás. Lá havia o templo do deus da cura, representado por uma serpente. Naquele primeiro século, a cura não era atribuída a Deus, mas a essa dita divindade. Além disso, esta era a primeira cidade a estabelecer o culto ao imperador. O Senhor conhecia onde eles habitavam. Jesus conhece onde você está.
Jesus tece apenas elogios a duas igrejas, e justamente as mais pobres. Como Jesus e diferente de nós. Ele anda no meio da sua igreja e a vê como nós não vemos. “Tu és pobre, mas aos meus olhos tu és rica”, disse o Senhor. Uma igreja pode ser considerada desprezível aos olhos da terra e ser rica no Senhor. Por outro lado, ele se dirige a igreja mais rica da Ásia e diz: “Tu és pobre, cega e nu”. Deus não se impressiona com aquilo que impressiona o homem, os céus não se impressionam com o que impressiona a terra. Ele elogia Filadélfia dizendo: “tens pouca força, mas coloquei diante de ti uma porta aberta”. Os recursos sempre nos são poucos para que sempre dependamos do braço divino, e não da força da carne.
As Críticas à Igreja de Laodiceia:
Jesus elogia e critica várias igrejas, mas somente à de Laodicéia Jesus não tem elogio algum, apenas criticas. Vamos olhar para as figuras de linguagem que Jesus usou. Por que Jesus lê o texto e o contexto, ele vê o povo e a cultura. Precisamos conhecer o comercio da nossa cidade, a economia da nossa cidade, a cultura de nossa cidade para dar respostas para perguntas relevantes.
Primeiro, Laodicéia ficava no vale de um rio de águas térmicas. Pessoas do mundo inteiro vinham ser tratadas pelas águas quentes que saíram da fonte, na cidade vizinha de Laodicéia. As águas da outra cidade vizinha tinham águas frias, terapêuticas. Já as águas de Laodicéia vinham de um duto, que eram mortas, intragáveis e inúteis para a medicina. Jesus aplica isso: quem te dera fosse fria como as águas de Colossos ou quente como as de Hierápolis, mas tu és morna, vomitar-te-ei.
Segundo, Laodicéia era o centro bancário da época, que processava todo o ouro da Ásia. Jesus diz pra ela: você, que é orgulhosa do seu ouro, é pobre espiritualmente.
Terceiro, porque fala de roupas brancas? É por que eles eram o maior centro têxtil da Ásia. Lá se fabricava a famosa lã negra e era exportada para o resto do mundo. Jesus diz: “te aconselho que te vistas com roupas brancas”.
Quarto, por que ele fala de colírio? Por que eles eram o maior centro oftalmológico da Ásia menor, onde se produzia certo pó que cuidava dos olhos. Mas Jesus diz que eles podem ter ciência pra tratar dos olhos do corpo, e serem cegos para ver com a alma.
Não há como ser só amigo do evangelho ou frequentador nominal. Ou você se envolve de todo o coração a Deus, ou você se prostra diante do Senhor dos Senhores ou sua vida vai provocar náuseas em Jesus.
Jesus identifica falta de fervor espiritual, mas, primeiro, não havia denúncias de heresias naquela igreja, eles eram ortodoxos. Não há denuncias de imoralidade naquela igreja, eles eram bem morais. Terceiro, não há palavras de perseguição. Eles viviam em paz nas suas fronteiras. Não há sinal de pobreza material naquela igreja, eles eram ricos. Talvez ficássemos muitos orgulhosos de fazer parte de igrejas ortodoxas, ricas, éticas e em paz, mas a maior censura foi para eles. O que faltava era fervor espiritual. E o texto começa falando sobre o fervor da igreja.
Vivemos uma crise sem precedentes no Brasil. Cresce o liberalismo, cresce o misticismo, o sincretismo, a teologia da prosperidade, o copo d’água ungido, a rosa ungida mística e toda coisa que afasta o povo das verdades da Escritura. Mas, por outro lado, há o severo risco de igrejas éticas ortodoxas, ricas e pacificas viverem uma ortodoxia morta, sem vida, sem entusiasmo, sem calor. As coisas só acontecem. Você vai e volta da igreja, evangeliza, prega, mas perdeu o fervor, o primeiro amor, já não sabe o que é chorar pelos pecados ou ter um vislumbre da glória do Cristo crucificado e ressurreto em seu meio. Precisamos orar para que Deus inflame outra vez sua igreja. Precisamos nos voltar para a Bíblia, mas também voltar para o Deus da Bíblia para experimentarmos um avivamento na nossa nação brasileira.
Ao andar por todo o Brasil, eu sei que precisamos desesperadamente de um reavivamento em nossa nação e não adianta usarmos frases de efeito, precisamos de oração para que o calor de Deus volte a aquecer a nossa alma. Eu olho para a história da Igreja e vejo homens como George Whitefield e não consigo entender. Vejo a biografia de Moody, homem inculto e sem muita instrução, mas caminhava por Nova Iorque e o Espírito ia sobre ele. Eu preciso do fervor destes homens. Precisamos que Deus nos dê este fervor. Tudo o que conseguimos dizer é que no passado multidões seguiam a Cristo, mas hoje conseguimos pensar muito pouco sobre o que Deus está fazendo. Precisamos de uma restauração de nosso fervor. Existe muito fogo estranho por aí, mas o fogo de Deus precisa se alastrar sobre nós.
Os Conselhos à Igreja de Laodiceia
No texto bíblico, Jesus continua dando conselhos para a Igreja, se apresentando como um mercador. Ele diz: “compre de mim vestes e colírio”. A solução para a falta de fervor da igreja não é correr a traz da ultima novidade, mas em uma volta pra Jesus. Jesus é quem tem o remédio para a Igreja, quem restaura a Igreja, quem pode trazer um derramamento do Espírito para a Igreja. É a Ele que precisamos recorrer.
No verso 19, Jesus faz uma declaração e uma ordem. Ele diz que a despeito da nossa mornidão e falta de fervor, Ele diz que nos ama e que não desiste de nós. Ele não quer apagar o pavio que fumega, mas nos repreende por que nos ama e morreu por nós. Ele diz: “sê, pois zeloso e arrepende-te”. Não há como ser só amigo do evangelho ou frequentador nominal. Ou você se envolve de todo o coração a Deus, ou você se prostra diante do Senhor dos Senhores ou sua vida vai provocar náuseas em Jesus. Nós fomos salvos para o deleite de Deus, mas se vivermos sem fervor, provocaremos náuseas em Jesus. Por isso no verso 20, ele está à porta e bate. Ele está batendo e batendo e batendo. Ele está insistindo que você largue estas migalhas e vá para o banquete. O que Ele quer aqui é intimidade com você, na mesa dele, num lugar de comunhão intima, sem holofotes, sem auditório, sem palcos. É no seu quarto, de joelhos. Ele quer cear com você, olhar nos seus olhos, dar-lhe a liberdade de debruçar sua cabeça no peito dele e que você compartilhe suas mais intimas necessidades.
Que resposta você vai dar? Deixará que a igreja se reúna com Jesus fora dela? Podemos ter aparatos e grandes convidados, mas o mais importante pode estar excluído. Jesus está à porta e bate, se você ouvir a voz e abrir a porta, Ele ceará com você.
Em ultimo lugar, ele faz promessas. Ele diz que é o Amem, a testemunha de Deus, o principio da criação de Deus. Ele é a palavra de Deus, Ele pode fazer promessas. Ele é o primeiro de tudo.
Ele diz que ao vencedor, deixará que sentemos no trono com ele. Vamos sair da cumplicidade da mesa e vamos para a exaltação publica no trono. Ele não quer você apenas no céu, mas também no trono. As riquezas de Laodicéia eram nada diante da grandeza destas promessas. As riquezas da terra são completa escassez diante das riquezas do céu.
Hoje, onde existiam estas igrejas, só existem ruínas. Elas não ouviram a voz do Espírito e não atenderam a voz de Jesus. Não podemos deixar que nossas igrejas se tornem museus ou mesquitas. Precisamos ouvir o que o Espírito diz às igrejas.
Nós fomos salvos para o deleite de Deus, mas se vivermos sem fervor, provocaremos náuseas em Jesus.
Por Hernandes Dias Lopes na 14ª Consciência Cristã
Resumo por voltemosaoevangelho.com
É pastor de confissão presbiteriana. Aos 56 anos de idade, é considerado hoje uma referência em diversos ambientes denominacionais, sendo frequentemente requisitado para pregações e conferências em eventos e igrejas de linha histórica, reformada e pentecostal. Começou a carreira ministerial com a graduação em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas (SP), em 1981. No ano seguinte, assumiu o púlpito da 1ª Igreja Presbiteriana de Bragança Paulista (SP). Em 1985, tornou-se titular da 1ª Igreja Presbiteriana de Vitória (ES), onde permanece até hoje. Dono de sólida formação acadêmica – é doutor em Ministério tem doutorado em Ministério pelo Reformed Theological Seminary, do Mississippi (EUA).