Francis August Schaeffer IV nasceu em Germantown, Pennsylvania, em um lar marcado por simplicidade e ausência de tradição intelectual. Seguindo a linha de seus pais, ele caminhou na adolescência pelos estudos técnicos, como construção elétrica e metalurgia. Havia passado a frequentar a Primeira Igreja Presbiteriana de Germantown, por influência do grupo de escoteiros a que fazia parte. Aprendeu ofícios manuais com o seu pai, como marcenaria e o trabalho com encanamento, e ainda na adolescência exerceu serviços nessa linha, como vender peixes aos sábados.
Outras leituras vieram, como a de Ovídio, e Fran – como era chamado – começou a perceber que a filosofia em si não promovia respostas satisfatórias às perguntas que levantava. Ao mesmo tempo, sentiu desconforto semelhante em sua igreja, que cedia ao liberalismo, e levantava questionamentos sem fornecer respostas sólidas. Decidiu, então, paralelamente às leituras filosóficas, ter contato direto com a Escritura – o que não existia até então. Na Bíblia Schaeffer encontrou as respostas às perguntas da filosofia. Foi assim que se tornou um cristão de fato.
Schaeffer ingressou na escola de engenharia, mas logo começou a perceber o chamado para o ministério pastoral. A despeito da vontade de seus pais, firmou-se na convicção e seguiu para os estudos em Hampden-Sydney College, Virginia, onde se prepararia para o treino ministerial posterior.
Após um ano estudando na Virginia, Fran conheceu Edith Seville nas férias de verão em Germantown. A interessante ocasião em que se conheceram deu o tom de seu relacionamento: juntos defenderam (e defenderiam) a fé cristã contra o liberalismo teológico. Ed Bloom, ex-membro da Primeira Igreja Presbiteriana, ministrou estudo aos jovens da igreja – “Como eu sei que Jesus não é Deus, e como eu sei que a Bíblia não é a Palavra de Deus”. Ao final de sua fala, tanto Fran quanto Edith manifestaram-se publicamente pelo cristianismo ortodoxo, e assim desenvolveram interesse mútuo. Casaram-se em 1935.
Schaeffer começou os estudos no Westminster Theological Seminary, mas concluiu no Faith Theological Seminary em 1938, ano em que também foi ordenado. Pastoreou em Grove City, Pennsylvania; Chester (mesmo estado) e St. Louis, Missouri.
Logo após a Segunda Guerra mundial, em 1947, Fran foi enviado à Europa pela Junta Independente para Missões Presbiterianas Estrangeiras (Independent Board for Presbyterian Foreign Missions). O objetivo era avaliar a situação do continente em relação à sua reconstrução, e o estado da igreja ali. Schaeffer estava diretamente interessado na condição do trabalho com crianças e jovens, bem como na ameaça do liberalismo teológico. Ele passou três meses, nos quais visitou treze países e começou a abrir os olhos para a Europa.
A família Schaeffer se mudou para a Europa em 1948, e se instalou na Suíça. Inicialmente ficaram em dois quartos pequenos na cidade de Lausanne. Logo se mudaram para Champéry, nos Alpes, onde começaram um trabalho evangelístico e uma igreja. Mas por se tratar de um cantão católico, tiveram de se mudar, e finalmente chegaram a Huemoz, onde o trabalho de L’Abri teve início.
Em 1955 é registrado o começo de L’Abri. A partir das conversas com os amigos universitários de suas filhas, Francis e Edith perceberam que havia uma grande oportunidade diante deles. O ministério cresceu consideravalmente, atingindo jovens do mundo inteiro, e expandindo seus branches para outros lugares, como Inglaterra, Holanda e Estados Unidos.
Schaeffer faleceu em 1984, após severas lutas com câncer (linfoma). Os últimos anos de sua vida foram marcados por intensa produção, como o filme “Whatever happened to the human race?”, a organização de suas obras completas, e palestras.
A grande contribuição de Schaeffer, entre outras, está em uma abordagem apologética baseada em sólida teologia, que interagiu com a cultura, e tratou o homem de modo pessoal – trazendo “respostas honestas a questões honestas”.
Lições da vida de Francis Schaeffer
Estive preparando recentemente uma nova disciplina acerca de Francis Schaeffer para os estudantes de graduação em Biola. Ao invés de restringirmos o nosso tempo somente em sua apologética, nos concentramos em sua vida e pensamento como um todo. Tenho admirado Schaeffer desde que participei de uma aula semelhante quando estive no seminário, mas Deus usou essa disciplina para me ensinar quatro lições que eu desejo compartilhar.
1. Humildade no ministério
Schaeffer se tornou uma figura evangélica internacional, mas ele não procurou esse papel. Ele servia humildemente em cada situação que se encontrava. Em sua primeira posição ministerial após o seminário, Schaeffer ensinou crianças com necessidades especiais na igreja. Em seu primeiro trabalho como pastor, ele gastou considerável tempo e energia para desenvolver um ministério para crianças chamado “Crianças para Cristo”. Schaeffer originalmente não tinha vontade de escrever livros. Ele mudou de posição somente após estudantes universitários pedirem os manuscritos de suas palestras.
2. Dependência de Deus
A família Schaeffer era marcada pela oração. O livro de Edith “A tapeçaria” está repleto de histórias de respostas de Deus às orações de maneiras muito específicas. Por exemplo, eles se recusavam a pedir apoio financeiro para L’ Abri, seu ministério de hospitalidade nos Alpes suíços. Em vez disso, eles oravam e confiavam que Deus iria prover. É provável que este valor tenha vindo da experiência de Edith crescendo como filha de missionários que trabalharam com a “China Inland Mission”.
3. Injustiça racial
No início dos anos 1930, enquanto Schaeffer foi um estudante universitário na Virginia, ele ensinou na escola dominical em uma igreja americo-africana que ficava nas proximidades. Em seu primeiro pastorado em St. Louis nos anos de 1940, Schaeffer informou sua congregação que ele iria renunciar por questões raciais. Sua filha recorda isso em uma entrevista: “… Eu sei que, ao mesmo tempo, ele disse à sua sessão que se qualquer pessoa negra chegasse à igreja e não somente fosse rejeitada, mas ainda se sentisse não desejada, ele também renunciaria”. (Veja o livro de Duriez listado abaixo, página 55.)
4 . Casamento
Talvez a minha maior lição tenha vindo da leitura sobre o casamento dos Schaeffers. Na minha humilde opinião, Francis tem sido corretamente classificado como um “workaholic”. No entanto, desde os primeiros dias de ministério, ele intencionalmente quis promover um relacionamento com sua esposa, Edith. Durante o seminário, eles discutiram cada lição teológica que aprenderam em sala de aula. Ao longo de seus muitos anos de ministério, Francis e Edith tiveram o cuidado de passar algum tempo juntos todas as noites discutindo a vida e o ministério.
Estas foram lições importantes para mim. Eu me esforço, às vezes em ser excessivamente ambicioso, e foi bom ser lembrado para andar nos chamados que o Senhor estabeleceu para mim. Eu também luto com a auto-suficiência e foi bom eu ver a dependência constante de Schaeffer sobre o Senhor em oração. Estou às vezes triste com a forma como os evangélicos consideraram a tensão racial no passado, por isso foi encorajador e refrescante ver o exemplo de amor de Schaeffer em ação. Finalmente, se não sou cuidadoso, posso errar, trabalhando muito. Eu precisava ser lembrado da importância de promover o meu casamento. Agradeço a Deus por me ensinar essas lições da vida de Francis Schaeffer.
Por Jason Oakes
Aqui estão dois recursos que eu utilizei para este post e na minha disciplina:
1. Uma nova biografia de Colin Duriez chamado Francis Schaeffer; An Authentic Life (Crossway, 2008).
2. Duas aulas acerca de Francis A. Schaeffer ministradas pelo Prof. Jerram Barrs, disponíveis no iTunes U.