O perdão do pecado é aquilo que o pecador espiritualmente despertado mais deseja.
Todavia, é possível o perdão? Sem a Bíblia jamais saberíamos se tal perdão seria possível. Vemos, nas Escrituras, que Deus fala de Sua misericórdia desde os dias mais antigos: “O Senhor… perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado” (Ex. 34:7).
Na Bíblia Deus fala de muitos modos a respeito do Seu perdão, como também sobre a pecaminosidade humana, de muitas maneiras diferentes. Os pecadores são descritos como “corrompidos” e “abomináveis”. O perdão de Deus é descrito como “limpeza” e “cobertura”. Os pecadores são descritos como “devedores” e “sobrecarregados”. O perdão é apresentado como “apaga-dor” de dívidas e como “levantador” do abatido. As ofensas “vermelhas” são tornadas brancas “mais que a neve”. O perdão de Deus é inteiramente adequado ao teu pecado!
O perdão de Deus para o pecado é gratuito, pleno e eterno. Estes três aspectos merecem considerações mais detalhadas, para mostrar quão completamente Deus na Sua misericórdia perdoa os pecadores.
Este perdão é gratuito. Não há condições para serem cumpridas antes dele ser dado. Os exemplos das Escrituras tornam isso bem claro. Que condições Saulo de Tarso teve de cumprir antes de ser perdoado? Nenhuma! Ele era um inimigo de Deus. Foi perdoado não porque tivesse cumprido certas condições, mas, “para que em mim, o principal pecador, evidenciasse Jesus Cristo a Sua completa longanimidade e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna” (I Tim. 1:16). Paulo, sem merecer, foi perdoado como “um modelo” para nós, da graça perdoadora de Deus.
Que condições Zaqueu, ou a samaritana, ou o carcereiro de Filipos cumpriram para obterem o perdão? Nenhuma, de fato! Nenhum deles merecia ser perdoado. Outros exemplos também poderiam ser citados, porém contentar-me-ei com apenas mais um. Que condições o ladrão moribundo teve de cumprir para ser perdoado? Também nenhuma! Ele era um notório pecador. Teria ele razão para esperar uma resposta feliz à sua oração: “Lembra-te de mim…”? Seu perdão foi unicamente um ato da graça de Deus! E o fato de só ele ter sido perdoado, dos dois ladrões, é um ato da graça discriminativa.
Ainda que este perdão seja gratuito para os pecadores, nunca devemos esquecer-nos de que Cristo pagou um alto preço por ele. Perdão para a menor das nossas ofensas só se tornou possível porque Cristo cumpriu as mais aflitivas condições, — Sua encarnação, Sua perfeita obediência à lei divina e Sua morte na cruz. O perdão que é absolutamente gratuito ao pecador teve um alto custo para o Salvador. Entretanto, no exato momento de pagar esse preço, como para mostrar que ele não foi pago em favor de pessoas justas ou dignas aos seus próprios olhos, Jesus moribundo perdoou livremente o ladrão. É evidente que o perdão vem pela graça, e a graça é favor dado sem o cumprimento de quaisquer condições preestabelecidas.
Penso que já foram apresentados fatos suficientes para provar que o perdão é gratuito. Eu poderia facilmente acrescentar outros fatos. Mas deixo-os de lado e só quero lembrar-te de um versículo marcante: “Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho” (Rom. 5:10). Está claro, então, que o perdão não foi dado por qualquer coisa boa que tais “inimigos” tivessem feito!
Em segundo lugar, este perdão é pleno. Mesmo só um pecado traz a maldição da lei sobre o pecador. O perdão deve ser pleno o suficiente para incluir cada pecado, e deve abranger os piores pecados, não importando quão perversos eles sejam, ou de outro modo tal perdão seria inadequado. Uma pessoa com um só pecado não perdoado, está perdida.
O sangue de Cristo tem valor infinito por causa da gloriosa dignidade d Aquele que o derramou. A morte de Cristo é capaz de “nos purificar de toda injustiça” (I Jo. 1:9), e isso significa que nos pode purificar de cada pecado, por pior que seja, e de todos os pecados, não importando quão numerosos sejam eles.
Podemos muito bem clamar: “Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e esqueces da rebelião do restante da tua herança. O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; subjugará as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Miq. 7:18-19).
Venha, então, trêmulo pecador! Pense nas riquezas da graça! Não permitas que nenhum pecado, ou mesmo uma multidão deles, te leve ao desespero. Deus nunca confere o Seu favor por causa do merecimento do pecador e nunca o nega por causa do seu demérito. A graça é livre e plena. Descanse sobre esta verdade!
Em terceiro lugar, o perdão é para sempre. Esta é a coroação final de um perdão completo. Ele é irreversível. As Escrituras dizem isto claramente: “… de seus pecados não me lembrarei mais” (Heb. 8:12). Esta promessa não é condicional, e sim absoluta. Não depende do perfeito comportamento subsequente do pecador. (Se dependesse, então esse perdão certamente fracassaria e não poderia ser mantido.) Depende do valor eterno da morte expiatória do Senhor e da inabalável fidelidade de Deus. “Quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões” (Sal. 103:12). “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rom. 8:33). Estas fortes expressões significam que o perdão jamais poderá ser revertido.
O fato de Deus castigar Seus filhos quando eles pecam, não significa que eles possam perder o seu perdão. O castigo que lhes impõe é evidência do Seu amor e do Seu interesse por eles, e não um sinal de que os está rejeitando.
O fato dos crentes orarem continuamente para que Deus lhes perdoe os pecados, não significa que eles já não estejam perdoados. Eles buscam a consciência de que foram perdoados. Não vamos imaginar que toda vez que eles pecam, arrependem-se, confessam o seu pecado e pedem perdão, Deus realiza novos atos de perdão. Contudo, eles precisam conscientizar-se sempre de que o perdão já lhes pertence, por serem filhos de Deus.
Quão glorioso, portanto, é o perdão que procede da graça de Deus. Quão completo é esse perdão! Nada existe que possa levar o pior pecador a deixar de pedi-lo. Ninguém tem razão para dizer: “Infelizmente, meus pecados são enormes demais!”
“Que diremos, pois, permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum” (Rom. 6:1-2). Antes, o pecador perdoado dirá com a mais profunda gratidão: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome… (porque) é ele que perdoa todas as tuas iniquidades” (Sal. 103:1,3).
“O perdão de Deus é da mesma natureza dEle. Não é estreito, difícil, frio, restrito e condicionado como o perdão que impera entre os homens; mas é pleno, livre, insondável, sem limites, absoluto — é da mesma natureza das excelências de Deus. Lembrem-se disso, pobres almas, quando tiverem de tratar com Deus a respeito deste assunto. O perdão não é merecido por obras piedosas realizadas antes, porém, é o mais forte motivo para se viver piedosamente depois de recebê-lo. Aquele que não aceita o perdão, a não ser que possa merecê-lo de uma forma ou de outra, não participará dele. Aquele que presume tê-lo recebido, e não se sente obrigado a ser obediente a Deus por causa do perdão que recebeu, na verdade não goza dele!”
Leitor, um tal perdão não seria próprio para você? Almeja ser perdoado? Então, olhe para Jesus que morreu por você. Isso que tanto deseja é um dom livre que se tornou possível por causa do Seu sacrifício a favor dos pecadores.
Você já está perdoado? Então o teu coração deve estar cheio de santo amor pelo Senhor e de compaixão para com qualquer que te ofenda. Aquele que se considera perdoado, mas não perdoa aos outros, “é mentiroso” (I Jo. 4:20).
Abraham Booth – (1734 – 1806)
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