O Catecismo de Westminster Comentado [Pergunta 7 / 8]

Breve Catecismo de Westminster foi formulado por teólogos ingleses e escoceses da Assembléia de Westminster, no séc. XVII.
É um catecismo resumido, de orientação calvinista, composto de 107 questões. Junto da Confissão de Fé de Westminster e do Catecismo Maior de Westminster, compõe os símbolos de fé das igrejas presbiterianas ao redor do mundo. Originalmente elaborado para o uso com crianças, revela contudo, um conteúdo de grande valor, aplicável a adultos.
O comentários que seguirão são baseados no Livro DOCUMENTOS DA REFORMA Breve Catecismo comentado, do Amado irmão Helio Clemente do Ministério Vivendo pela Palavra.

PERGUNTA: 7
Que são os decretos de Deus?

RESPOSTA: 7
Os decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o conselho da sua vontade, pelo qual, para sua própria glória, Ele predestinou tudo o que acontece.

PERGUNTA: 8
Como executa Deus os seus decretos?

RESPOSTA: 8
Deus executa os seus decretos nas obras da criação e da providência.

Bases Bíblicas:

Deus, pela única razão de sua vontade, decretou, de forma inalterável, tudo quanto acontece, e ainda que Ele conheça tudo quanto há de acontecer, ele não ordenou nenhuma destas coisas por havê-la previsto, mas ordenou-as somente pelo conselho de sua vontade.

Isaías 45,7: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”.

Este plano de Deus é absolutamente imutável, de maneira que, todas as coisas acontecem no tempo de acordo com a determinação eterna de Deus. Todo o propósito deste plano é destinado à glória de Deus e independe da vontade, pensamento ou atos das criaturas.

Os decretos eternos e a responsabilidade do homem: Esta predestinação, ou determinação prévia de todas as coisas, não retira do homem sua responsabilidade perante Deus, a responsabilidade depende da existência da lei e de um Juiz, capaz de julgar.

Salmos 7,11: “Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias”.

A soberania de Deus: Toda a ordenação do universo compõe um conjunto de fatos previamente determinados, pelo qual Deus realiza seu plano eterno. Deus tem um propósito definido com referência à existência e destino de tudo quanto criou.

As ações dos seres criados são livres de acordo com a natureza do homem, mas, condicionadas às causas secundárias e contingentes antes determinadas por Deus, que levarão as criaturas a executar minuciosamente o seu plano eterno.

Isaías 14,24: “Jurou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará”.

Não existe sombra de variação na vontade de Deus, nenhum novo ato pode entrar na sua mente e nunca poderá haver mudança nos Decretos Eternos. Deus tem um só propósito, neste propósito estão todas as coisas e seres pertencentes à eternidade e ao tempo.

Os Decretos Eternos de Deus tem uma ordem lógica e não temporal, porém, sua execução no mundo é feita no decorrer do tempo pelas obras da providência divina.

Hebreus 1,3: “Ele (Cristo), que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas”.
Deus não criou nenhum ser que não esteja dentro de seu controle, nenhum evento acontece à parte de seu plano. Todas as coisas foram criadas para a glória de Deus.

Isaías 42,8: “Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura”.

Pelo decreto de Deus alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna, todos os textos das escrituras relativos a este assunto são referidos a indivíduos que receberam a predestinação, portanto, o chamado é individual, não nacional ou denominacional.

Efésios 1,4-5: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade”.

Os hebreus eram o povo de Deus no VT, mas entre todo este povo seriam chamados alguns para a salvação, da mesma forma, após o NT, entre todos os cristãos nominais existentes, Deus irá chamar este ou aquele cristão, o chamado é individual. 

O atual Povo de Cristo não tem nenhuma vinculação coletiva com qualquer nação ou denominação religiosa, são indivíduos de qualquer condição social ou denominação. Romanos 8,30: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou, e aos que justificou, a esses também glorificou”.

O caso de Jacó e Esaú é típico, antes mesmo do nascimento, eram indivíduos: Jacó, amado por Deus; Esaú, odiado por Deus, ambos de forma claramente pré-ordenada.

Romanos 9,11-13: “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú”.

Romanos 9,13Comentário bíblico – Sam Storms: “Amar e odiar não são emoções que Deus sente, pois Deus é imutável e impassional, mas ações que Ele executa.

Os anjos estão incluídos no decreto da eleição. No verso abaixo da Carta a Timóteo Paulo fala de “anjos eleitos” – consequentemente, os que caíram foram reprovados por Deus.

1 Timóteo 5,21: “Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade”.

Jesus decreta a mesma destinação final de perdição eterna tanto aos falsos religiosos que falam em seu nome como também os anjos caídos.

Mateus 25,41: “Então o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos”. Responsabilidade: Os réprobos, anjos ou homens, preordenados à impiedade, possuem, todavia, responsabilidade pelos seus atos e respondem individualmente por cada um deles, embora não lhes reste outra opção, como exatamente aconteceu a Judas Iscariotes.

João 17,12: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura”.

Deus é o Criador e doador da vida, cada ser humano que nasce, foi concebido de acordo com a determinação divina. Assim se processa continuamente a história da humanidade até se completar o número total de eleitos e réprobos, quando a história chega ao fim.

Esses homens e anjos, assim predestinados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.

Tiago 1,17: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”.

O número dos eleitos: Deus, portanto, conhece o número exato de seres humanos, que traria à existência, e desses, a soma completa dos eleitos. Somente Deus conhece seus filhos, ninguém consegue imaginar o número destes eleitos.

Jesus nos diz que o rebanho é pequeno, que a porta é estreita, sugerindo um número de eleitos bem menor que os reprovados, isto também se pode auferir dos remanescentes no Velho Testamento, são sempre muito menores que o povo em geral.

1 Reis 19,18: “Também conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou”.

Os 144.000 no livro do Apocalipse: Este número é simbólico, conforme o múltiplo dos números da perfeição na cabala judaica: 12 x 12 x 1.000. Este é um número representativo dos eleitos, que não serão obrigatoriamente judeus e serão inumeráveis.

Apocalipse 7,4: “Então ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel.

Preordenados em Cristo Jesus: Antes que fosse o mundo criado, Deus escolheu, em Cristo, homens e anjos predestinados para vida eterna pela sua livre graça, e não por previsão de fé, ou de boas obras próprias destas pessoas como condição para a salvação.

Desta forma, todos os homens salvos, em toda a história da humanidade, foram salvos em Cristo somente, nada procedente do próprio homem contribui para sua salvação.

2 Timóteo 1,9: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos”.
Muitas doutrinas bíblicas estão além da compreensão do homem, mas, sendo reveladas pela Palavra demandam toda credibilidade, defesa e lealdade, a bíblia é a regra de fé para o cristão e deve ser recebida como a verdade revelada porque é a Palavra de Deus.

João 17,17: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”.

Deus escolheu os seus eleitos na eternidade, nenhum deles ainda existia e nada fizeram para que isto acontecesse. Da mesma forma que um bebê não escolhe seus pais, muito mais aquele que nasce do Espírito terá a condição de escolher o seu novo nascimento.

Vontade de Deus é a razão de todas as coisas, por este motivo não é movida por nenhuma outra coisa, imaginar que Deus escolheu uma pessoa para salvação porque previu que ele seria digno disto é criar uma obrigação para Deus, neste caso para que a encarnação?

Como é o decreto da salvação? O Pai elege seus filhos na eternidade, o Filho adquire a redenção e o Espírito opera a salvação ao longo de toda a vida do crente regenerado.

Salmo 139,3-4: “Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda”.

Perseverança: Aceitar o decreto da eleição não significa que o cristão irá abandonar sua perseverança; é simplesmente impossível para aquele que foi justificado por Deus abandonar sua salvação, pois os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.
Romanos 11,29: “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.

O chamado é para fé e arrependimento, apesar de continuar pecador, o cristão passa a andar nos caminhos que Deus preparou para ele, pois, Deus não somente salva como coloca na vida do pecador regenerado todos os meios conducentes a esta salvação.

Efésios 2,10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”.

Existe uma forte distinção entre o propósito eterno de Deus e sua vontade preceituada na Escritura. A vontade de preceito de Deus é que o evangelho seja pregado a todos os homens, sem distinção, mas sua vontade efetiva é a salvação apenas de seus eleitos.

O que Deus tem determinado em seus Decretos acontecerá, esta é a vontade de propósito ou eficiente, sua vontade de preceito se refere às ordens e proibições nas Escrituras.

A Escritura traz muitos exemplos da vontade de preceito revelada contraditada pela vontade efetiva de Deus, que prevalece sobre os preceitos bíblicos.

A vontade efetiva contra a vontade reveladaMoisés: Moisés pedirá que Faraó deixe o povo ir: esta é a vontade preceptiva de Deus, mas Deus também diz que ordenará o endurecimento no coração de Faraó, de sorte que Faraó recusará a ordem de deixar o povo ir, esta última é a vontade efetiva de Deus.

Êxodo 4,21: “Disse o SENHOR a Moisés: Quando voltares ao Egito, vê que faças diante de Faraó todos os milagres que te hei posto na mão; mas eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo”.

– Jesus Cristo: Aqui se apresenta a necessidade de Deus entregar seu próprio Filho para execução do plano de redenção, todavia, foi pecaminoso para seus executores cumprirem o decreto divino. Em Atos, Lucas expressa o entendimento da soberania de Deus.

Atos 4,27-28: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram”.

Os executores sujaram suas mãos para se rebelar contra o Altíssimo, somente para provar que a rebelião deles era um serviço nos inescrutáveis planos de Deus. Não era da vontade revelada de Deus que eles entregassem Jesus para ser crucificado, mas era a sua vontade de Decreto que seu Filho fosse entregue para adquirir a redenção de seu povo.

Atos 2,23: “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”.

– José: A vontade revelada de Deus era que os irmão de José deveriam amá-lo, mas a vontade decretiva de Deus era que, pela desobediência dos irmãos, José ganharia autoridade sobre a terra do Egito e seria capaz de dar origem ao povo de Deus.

Gênesis 50,20: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida”.

Exemplos da vontade revelada incluem:

– Estudar as escriturasEfésios 5,17: “Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor”.

– Ser pacientes: 2 Pedro 3,9: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum (nenhum de vós) pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”.

Exemplos da vontade decretiva de Deus incluem:

– A vontade de Deus é soberanaTiago 4,15: “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”.

– Deus se revela a quem ele querMateus 11,25-26: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.

– Deus manda os reis darem o reino à Besta: Apocalipse 17,17: “Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem a uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram às palavras de Deus”.

– O espírito enganador: Acabe estava procurando formar uma aliança com Josafá, rei de Judá, de forma que juntos pudessem atacar Ramote-Gileade, a qual estava sob o controle da Síria, aqui Deus coloca um espírito enganador nos lábios daqueles homens.

2 Crônicas 18,22: “Eis que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o SENHOR falou o que é mau contra ti”.

– A vontade de Deus: Em certos trechos, a bíblia apresenta Deus como se arrependendo ou se emocionando com as atitudes dos homens; trata-se de uma linguagem poética e destinada ao entendimento humano, a vontade de Deus não pode ser resistida.

Daniel 4,35: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”

Em outros trechos, Deus traz destruição, depois convida o seu povo ao arrependimento:

Não se deve confundir as ameaças de Deus feitas ao povo em geral com as promessas de salvação que são feitas ao remanescente, estes remanescentes passarão por todas calamidades impostas, mas no final, este remanescente escolhido por Deus será salvo.

O endurecimento de Israel e a salvação em Cristo: O endurecimento de Israel por Deus não é um fim em si mesmo, mas é parte do plano de salvação para todas as nações.

No texto de Marcos, abaixo, Deus determina que uma condição repreensível prevaleça, com o fim de alcançar os resultados previstos no seu Plano Eterno, então Ele age de forma a restringir a realização da mensagem do evangelho aos judeus.

Marcos 4,12: “Para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles”.

O cristão deve viver pelos preceitos bíblicos, os Decretos Eternos pertencem a Deus.

Deuteronômio 29,29: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.

 Aguardem a pergunta 9: 

Qual é a obra da criação?

 

Por isso, é necessário que o estudo do Catecismo seja acompanhado de comentários explicativos, pois Helio_Clementea amplitude das perguntas e respostas é grande e não se restringe direta- mente ao assunto especifico da questão. Os itens do Catecismo constituem um breve resumo relativo ao tema tratado, que deve ser ampliado e explicado em detalhes, de forma que o entendimento seja completo. Não é preciso modernizar a igreja, mais voltar no tempo e procurar a pureza doutrinária perdida ao longo dos séculos.
Em Cristo,
Helio Clemente – Abril de 2014


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