O QUE VOCÊ SABE SOBRE A ESPOSA DO SEU PASTOR E O QUE VOCÊ REALMENTE DEVERIA SABER SOBRE ELA?
A esposa do pastor é chamada de “Mulher sem nome” no livro de Nancy G. Dusilek.[1] A autora, viúva e mãe de pastor, aborda a maneira como a igreja vê a esposa do ministro do evangelho e como, às vezes, até se refere a ela somente pelo título de “esposa do pastor” e não pelo que a designa como pessoa, ou seja, seu nome próprio. Com isso, a esposa do pastor acaba se sentindo “despersonalizada” ao procurar cumprir sua missão de auxiliadora do marido.
Também, há o fato de que, mesmo quando sua identidade é considerada, a esposa do pastor ainda é vista por alguns como um apêndice, parte do pacote ou bônus obtidos pela contratação do pastor. Afinal, dependendo do que ela sabe e gosta de fazer, pode ajudar no departamento infantil, dirigir a Escola Dominical, tocar o piano ou reger o coral da igreja. É claro que, quando o desempenho dela incomoda o “status quo” de outros membros, ou interfere nos programas previamente estabelecidos na igreja local, logo ela é vista como indesejável e intrometida.
De qualquer maneira, nem sempre a liderança e os membros da igreja percebem a correlação entre a permanência de um pastor no campo e a satisfação ou insatisfação de sua esposa. Também raramente se considera, de fato, a identidade e as dificuldades que uma esposa de pastor enfrenta. Por isso, gostaria de considerar alguns detalhes que todo crente realmente deveria saber sobre a esposa do seu pastor.
Ela é uma pessoa. Parece óbvio, mas há situações nas quais a esposa do pastor é tratada como uma extensão dele. Todavia, ela possui pensamentos, opiniões, gostos e sonhos próprios. Algumas vezes ela até difere do seu marido em algumas dessas questões. Há ocasiões nas quais ela se cala para não comprometer o ministério do marido, mas ela possui características e qualidades próprias. Se cada membro da igreja procurasse conhecer melhor a esposa do seu pastor, provavelmente ficaria surpreso ao descobrir que ela é uma pessoa muito diferente daquilo que a igreja assume sobre ela.
Ela possui dons espirituais próprios. Como qualquer outro membro no corpo de Cristo, ela recebeu dons e talentos para serem exercitados em prol da glória do Senhor e edificação da igreja. Nem sempre esses dons se resumem ao ensino de crianças na Escola Dominical e os talentos não estão conectados ao piano da igreja. Há ocasiões que ela nem sabe ao certo quais são os seus dons, mas seu coração queima com o desejo de ser útil à igreja de Deus. Parte dessa incerteza provém do fato de que ela não teve tempo para desenvolver seus dons espirituais, já que está muito atarefada preenchendo lacunas em áreas ministeriais deficientes da igreja.
Ela vive pressionada por expectativas. Algumas vezes são expectativas dela mesma, mas, na maioria dos casos, expectativas que outros têm a respeito dela. O problema é que nem sempre essas expectativas são santas ou reais, mas inúmeras vezes são expectativa irreais e até pecaminosas, que nunca irão se cumprir. A fim de termos uma noção de quão opressora essa condição pode ser, basta considerar quantos de nós gostaríamos que outros nos dissessem como devemos nos vestir, como devemos gastar nosso dinheiro, quem devemos convidar para jantar em nossa casa e como nossos filhos devem se comportar? O trágico é que esposas de pastores são, geralmente, criticadas nessas áreas! Os crentes devem ser lembrados de que a única expectativa sobre nós que realmente importa é a do nosso Pai celestial.
Ela compartilha o marido dela com a igreja. Em uma entrevista acerca do seu livro, Nancy Dusilek disse: “Eu faço uma brincadeira que o pastor é bígamo, tem duas esposas, a física e a igreja, porque precisa dividir o tempo dele”.[2] Nesse contexto, dependendo do tamanho da igreja e do número de obreiros que ela não tem, a esposa necessita abrir mão do seu marido mais vezes em prol do rebanho. Logo, as refeições familiares são geralmente interrompidas por chamadas telefônicas, as férias e feriados são frequentemente cancelados devido a alguma necessidade urgente, os aniversários na família são sempre apressados e assim por diante. Qualquer pessoa com bom senso pode imaginar o impacto que tudo isso tem sobre a harmonia familiar!
Ela pode sofrer angústias com a situação financeira. A maioria dos pastores recebe pouco. Alguns, somente o piso de sua denominação e outros, alguns benefícios além disso. O problema é que não se compra comida, roupas, livros e nem se paga a escola dos filhos com os benefícios comuns do ministério. Por essa razão, não é raro que a família pastoral passe por necessidades e que a esposa do pastor não consiga “acompanhar” as outras irmãs da igreja nos gastos com vestimentas, móveis, viagens e até tratamentos de saúde ou beleza. Tudo isso resulta em intensa pressão emocional e espiritual para ela. Por isso, os membros da igreja deveriam exercer sensibilidade nessa área, não colocando sobre a família pastoral algumas demandas financeiras desnecessárias. Outrossim, seria importante considerar que a razão pela qual a esposa do pastor não o acompanha em todos os eventos sociais (casamentos, festas de aniversário, por exemplo), pode ser pelo fato de ela não ter vestimentas adequadas e não boa vontade, como alguns pensam.
Ela é machucada pelos comentários sobre ela e sobre os demais membros de sua família. Em certo sentido, todos parecem se interessar pela família do pastor. Alguns gostariam de administrá-la e corrigir os erros ou supostos erros dela. Outros preferem comentar as peculiaridades da família pastoral. Porém, comentários facilmente se transformam em fofocas e têm potencial de machucar. A esposa do pastor geralmente é machucada pelos comentários feitos sobre o seu marido (não sabe liderar, não prega bem, visita pouco, está fora de forma, se veste mal etc.), seus filhos (são uns pestinhas, folgados, privilegiados, não vieram à Escola Dominical etc.) e sobre ela mesma (santarrona, mandona, intrometida, quer mudar tudo etc.). Todo crente deveria se lembrar que palavras machucam e, “se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã” (Tiago 1.26).
A vida dela é mais estressante do que se imagina. Devido ao fato da agenda do seu marido ser geralmente direcionada às necessidades das pessoas da congregação, dificilmente a família consegue “programar” seu dia sem incidentes. Essa situação piora quando o pastor trabalha em áreas de muito carentes. Nesses casos, o pastor é frequentemente acionado quando há mortes envolvidas, tentativas de suicídio, crises domésticas, problemas relacionados a drogas e outras coisas. Com isso, o estresse parece rondar a residência do pastor e a esposa acaba tendo que se “desdobrar” para manter a calma, mas, para isso, ela paga um enorme custo emocional.
Ela é mais solitária do que parece. Nem sempre ela pode contar com uma amiga na congregação, pois raramente a encontra. Além do mais, ela geralmente se policia para saber o que contar, qual comentário fazer, até que ponto pode expressar seus sentimentos e opiniões. Com isso, a esposa do pastor acaba convivendo com a solidão. Como se isso não fosse o bastante, ela também padece por ser uma ovelha sem pastor já que, pelo fato de compartilhar o marido com a igreja, nem sempre ela tem seu pastor ao lado quando precisa dele. Quando o marido/ministro chega em casa, cansado de tanto ouvir problemas de outros, muitas vezes lhe falta a sabedoria para perceber que a ovelha doméstica necessita de alguém para cuidar dela.
Ela não é tão estável quanto parece, mas, como todo cristão, possui seus momentos de angústias, incertezas e fragilidades. Muitas vezes essas lutas se revelam no fato de ela não saber como cuidar dos filhos. Outras vezes, por não estar segura em relação às críticas ou não se achar suficiente como auxiliadora de um marido tão requisitado. O fato é que não importa a situação, a instabilidade interna que acompanha todo cristão nesse mundo fragilizado também assombra a esposa do pastor. Se algumas vezes ela parece sólida, é pela graça do Deus, que “faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isaías 40.29).
Ela é sua irmã em Cristo. Assim como aconteceu com você, ela foi resgatada, lavada no sangue do Cordeiro e tem a retidão que procede daquele que por ela morreu e ressuscitou. Olhar para a esposa do pastor como irmã em Cristo deveria fazer com que todo membro da igreja a acolhesse, pois Paulo escreveu: “acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Romanos 15.7).
Concluindo, há mais sobre a esposa do seu pastor do que provavelmente você havia considerado. Os tópicos acima são apenas representativos e poderiam ser ampliados a partir de considerações contínuas sobre esse assunto. Todavia, sabendo o que você acaba de aprender, como você pretende expressar seu amor e apreço pela esposa do seu pastor?
Valdeci Santos
Secretário Nacional de Apoio Pastoral