“Graça não é só uma oferta de salvação, é também um poder que salva”.
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. (Romanos 8:28-30)
Quando nós, filhos de Deus, nos libertamos da compulsão de auto-exaltação, auto-justificação e auto-preservação, então vivemos pelo eterno bem de outras pessoas, nos tornamos a luz do mundo e o sal da terra, e as pessoas percebem em nós a existência de Deus e dão glórias a Ele (Mateus 5.14-16). Assim, se o propósito de Deus para nós é cumprido no mundo – fazer conhecida a sua glória através de vidas de amor – então devemos encontrar uma arma para vencer o orgulho e insegurança que alimenta nossa necessidade de exaltarmos, justificarmos e preservarmos a nós mesmos com posturas, poses, performances e prosperidade.
A arma que Deus pôs nas mãos de seu povo é a promessa de Romanos 8.28. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. A confiança em nosso coração de que o Deus Todo-Poderoso causa tudo o que me acontece para meu bem é a espada que corta pela raíz a auto-exaltação, auto-justificação e auto-preservação. Como o verso 31 diz: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.
Se, pela graça completa de Sua soberana vontade, Deus tem estado ao seu lado e trabalha toda dor e prazer juntos para seu bem, então nenhum oponente pode realmente prevalecer contra você. Então, porque exaltar a si mesmo? Porque justificar a si mesmo? Porque a dificuldade sobre preservar a si mesmo? Se o Senhor do Universo prometeu trabalhar por você, por que estar ansioso sobre o que os outros pensam? Por que você está sempre em busca de conforto e segurança? Seu Pai sabe de que você precisa e Ele trabalha todas as coisas para o seu bem. Deixe sua exaltação, justificação e preservação nas mãos supremas e viva em liberdade pelos outros.
Quando o povo escolhido de Deus realmente crê em Romanos 8.28, da infância até o túmulo eles são o povo mais forte, generoso e livre no mundo. Se Romanos 8.28 tem este poder na vida diária, então seu fundamento é completamente prático. Romanos 8.29-30 é este fundamento. Quanto melhor nós entendermos o texto e mais crermos nele, mais certeza teremos em Romanos 8.28. E isto nos fará um povo poderosíssimo e amabilíssimo – para a glória de Deus!
Romanos 8.28 diz que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que “são chamados segundo seu propósito”. O que significa ser chamado? Significa que Deus dominou a rebeldia de nossos corações, nos direcionou a Cristo e criou amor e fé onde antes havia um coração de pedra. O chamado é eficaz. Cria o que ordena. Não é como “Aqui, Rex! Aqui!”. É como “Lázaro, vem para fora!” ou “Haja luz!”. O chamado acontece na pregação da Palavra de Deus pelo poder do Espírito do Senhor. Sobrepuja toda resistência e produz a fé que justifica.
Uma evidência chave para esta verdade é a sentença no versículo 30: “aos que chamou a estes também justificou”. Somente as pessoas com fé são justificadas. Mas Paulo diz que os chamados são justificados. Então o chamado deve, de alguma forma, garantir a fé. Claro! O chamado é a criação da fé. Portanto, todos os que são chamados são certamente justificados.
Este chamado não é uma resposta a algo que tenhamos feito. Versículo 28 diz que nós somos chamados “segundo seu propósito”. O propósito e o plano de Deus são a base do nosso chamado, não nossos planos e propósitos. Este propósito é descrito no verso 29. Note que o começo do versículo 30 é baseado em nossa predestinação: “aos que predestinou, a estes também chamou”. Então o termo “chamados segundo o propósito de Deus” no versículo 28 é virtualmente o mesmo que chamados com base na predestinação de Deus no versículo 30. Sua predestinação e Seu propósito são o mesmo.
E o significado disto é dado no versículo 29: “Porque os que conheceu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. O propósito pelo qual nós somos predestinados é participar da glória do supremo Filho de Deus. Este propósito ou predestinação é baseado finalmente em um ato de conhecimento: “Os que conheceu de antemão, a estes também predestinou…”
Isto não quer dizer que Deus baseia sua predestinação em nossa fé auto-determinada, que Ele conheceu no princípio dos tempos. Esta interpretação intenta preservar o auto-determinismo da vontade humana. A fé é produzida pelo chamado de Deus, não por um ato humano de auto-determinação.
Quando Deus conhece alguém, a este Ele concede seu favor, ou o possui, ou o escolhe. Então, o significado do versículo 29 é que “aqueles que Deus livremente escolhe ou aqueles que Deus livremente concede seu favor, a estes Ele também predestinou para serem como seu Filho, e aos que predestinou Ele chamou”. Então o chamado de Deus é baseado no ato divino da predestinação, que por sua vez é baseado na eleição ou escolha que Deus fez sem algum ato ou mérito de nossa parte.
Se Deus escolheu você antes da fundação do mundo sem levar em conta algum mérito ou atitude em você, te destinou para ser um glorioso espelho de Cristo e revelou este propósito, chamou você criando fé e amor por Cristo e ainda te qualificou para a promessa de Romanos 8:28; então sua confiança nesta promessa não será bem maior do que se simplesmente ela descansasse em algo tão enganoso e incerto como sua vontade e sua decisão? “Chamados segundo seu propósito” é a grande base da confiança de que Romanos 8.28 é realmente verdadeiro para nós.
Quero nos confortar na verdade de que nosso chamado é baseado na predestinação de Deus. Versículo 30: “Aos que predestinou, a estes também chamou”. Nosso chamado, nossa conversão, nossa regeneração, o dom da fé, são baseados na eterna eleição de Deus e na predestinação, não em nosso livre-arbítrio. O caminho que eu gostaria de nos levar a isto é observar outros textos do Novo Testamento que dizem a mesma coisa, de forma que nós veremos quão grande o fundamento de nossa confiança em Romanos 8.28 realmente está na Palavra de Deus.
Paulo relembra como Elias uma vez achou que era o único crente verdadeiro assim como na época do Apóstolo, alguns achavam que Deus rejeitou Seu povo.
Romanos 11.4-8: “Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje ”.
Note que apenas Deus trabalhou para guardar para si um grupo de verdadeiros crentes na época de Elias, assim como ele fez na época de Paulo. E Paulo os chama de um remanescente “segundo a eleição da graça”. O fato é que há um grupo de pessoas que crêem, são nascidos novamente, convertidos e chamados segundo um ato da graciosa eleição. Eleição é a base do remanescente fiel, não o contrário. O texto não diz que Deus elegeu segundo quem creu, como o pensamento da eleição baseada que a fé prevista propõe. Não. Versículo 5: “ Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça ”. A observação sobre a existência de um remanescente de verdadeiros crentes concorda com o propósito divino da eleição. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
2 Timóteo 1.8-9: “ Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos sofrimentos do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos ”.
Novamente Paulo diz que o chamado não repousa em nossas obras. Ele é segundo o propósito de Deus. Versículo 9: “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça”. Nosso chamado repousa em Seu propósito e não nos nossos. E a graça deste propósito foi “dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos”. Nosso chamado é baseado na eleição eterna de Deus. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
2 Tessalonicenses 2.13: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade”.
O texto não diz que Deus os escolheu com base em sua fé prevista. Diz o oposto: Deus os escolheu tendo em vista os salvá-lo pela obra do Espírito e pela fé. A fé auto-determinista do homem não o leva à eleição de Deus. Pelo contrário, a eleição o leva à fé. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
Efésios 2.4-6: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”.
Você pode perguntar: “Onde você vê eleição e predestinação nesse texto?”. A resposta é vê-lo na palavra “amor”. Mas você pergunta: “Deus não ama a todos?”. A resposta é que Ele não ama todas as pessoas do mesmo modo. O amor mencionado aqui não é o amor universal, que leva Deus a dar vida, fôlego, sol e chuva. Não, é mais precioso que isso.
Paulo diz por ESTE muito amor, Deus nos vivificou quando ainda estávamos mortos. Agora, se Deus amou a todos com este amor, todas as pessoas seriam vivificadas em Cristo e todos seriam salvos. Quando Paulo glorificou o amor de Deus por ele em Jesus Cristo, ele não glorificou meramente a OFERTA de salvação a todos que vierem a Cristo. Ele glorificou a profundíssima e maravilhosa verdade com que Deus o levou a Cristo. Antes ele estava morto no pecado. Agora ele vive. E a origem deste milagre é o amor de Deus. E, desde que Deus não realiza este milagre em todos, isto é um amor eletivo. Assim, a eleição é clara nesta passagem e é a base da nossa conversão, da nossa regeneração e da nossa fé. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
1 Coríntios 1.26-31: “ Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor ”.
Considere seu chamado. Isto é, olhe ao redor de você em Corinto e veja que tipo de pessoas se tornaram cristãos. Considere quem tem sido chamado de forma eficaz pela fé. O que você vê? Não muitos sábios, ou poderosos, ou nobres. Por que não? Porque Deus é o único que escolhe quem será salvo em Corinto, e Deus intenta escolher de uma forma que eliminará o caminho da auto-exaltação. Três vezes Paulo diz “Deus escolheu”. Deus não permite a idéia da salvação pela determinação do homem porque então nós determinaríamos a construção da igreja e teríamos algo para nos gloriarmos.
Versículo 30 diz literalmente “vós sois dele, em Jesus Cristo”. Nós não colocamos a nós mesmos em Cristo Jesus. Deus trabalhou em nós de forma que nós estivéssemos unidos a Cristo em fé. Por quê? Para que ninguém se glorie perante Deus. Portanto, deixemos que aquele que se glorie, glorie-se no Senhor! Deus fez as escolhas em Corinto. E com base nestas escolhas, Ele chamou, isto é, uniu pessoas em Cristo. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
Atos 13.47-48: Paulo está pregando na sinagoga em Antioquia da Pisídia. Quando o sermão termina, Lucas faz um comentário que nos mostra sua profunda harmonia teológica com os escritos paulinos. Paulo termina sua pregação com estas palavras:
“Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, A fim de que sejas para salvação até os confins da terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna”.
Isto é idêntico ao que Paulo diz em Romanos 8.30. “Aos que predestinou, a estes também chamou” quer dizer o mesmo que “creram todos quantos estavam [pré]ordenados para a vida eterna”. A doutrina da predestinação de Paulo não o deteu de seu trabalho missionário mundial. Pelo contrário, o estimulou saber que Deus tinha muitas pessoas entre as nações que seriam chamadas de forma eficaz pela pregação do evangelho (Atos 18.10). Aos que Deus predestinou, Ele, com certeza absoluta, chamará. Nisto reside a esperança e confiança do todo o investimento missionário.
João 8.46,47; 10.25-27: Jesus repetidamente apresenta a questão no evangelho de João do porquê de algumas pessoas crerem e outras não. Ele nunca dá a popular resposta de que depende do poder humano de auto-determinação. Jesus remete repetidamente a algo bem mais profundo.
“Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus”. (8.46 e 47)
O que leva uma pessoa a desejar e crer nas palavras de Deus repousa em algo bem mais profundo. A pessoa é DE DEUS ou não é DE DEUS? Isto é, a pessoa é escolhida de Deus? Nascida de Deus? Filha de Deus? Não importa quais sejam o “de Deus” ela desejará ouvir. Todos quanto estão ordenados para a vida eterna creram. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.
“As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem”. (10.25b-27)
“Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas”. Note que não diz “vocês não são das minhas ovelhas porque não acreditam”. Pertencer a Jesus não é baseado em minha fé. Eu devo crer para evidenciar que sou das ovelhas de Jesus. E se eu persistir na incredulidade, então mais evidentemente eu não sou das ovelhas de Jesus. Deus me fez uma ovelha de acordo com a eleição da graça que me foi dada em Cristo Jesus há muito tempo. E quando as ovelhas ouvem o evangelho, elas acreditam. Aos que ele predestinou a serem ovelhas, Ele também chamou à fé de modo eficaz!
A conclusão que eu tiro então é que há uma gigantesca fundamentação no Novo Testamento para a verdade de Romanos 8.30, que o chamado de Deus é baseado em Sua predestinação, e que a predestinação não é baseada em nada em nós. Não é em nossa dignidade como pessoas (assim todos se qualificariam) nem em nossa fé (que é um dom de Deus). Nossa eleição é incondicional. Aos que ele conheceu de antemão, a estes também predestinou e aos que predestinou, a estes também chamou.
Implicações:
- Nós somos confrontados com a escolha entre uma popular especulação filosófica de um lado e a persuasiva doutrina bíblica do outro. A filosofia popular diz que nós devemos ter o poder de auto-determinação definitivo para que possamos responder por nossas escolhas. A Bíblia, por outro lado, deixa claro em uma centena de passagens que não há poder de auto-determinação e a salvação nada tem a ver com a responsalidade por nossas escolhas. Você seguirá a filosofia humana ou a Bíblia? A Bíblia já ganhou sua confiança o bastante para que você submeta seus conceitos aos julgamentos dela? Ou continuará a submetê-la aos seus?
Uma das críticas que algumas vezes são feitas contra aqueles que abraçam as doutrinas da eleição incondicional e soberania da graça é que somos escravizados pela lógica e dirigidos por um racionalismo inexorável, que nos força a dizer coisas sobre Deus que não são ensinadas nas Escrituras. Eu suspeito que seja verdade para algumas pessoas.
Mas minha experiência me diz que o oposto também é o caso. Recentemente, perguntei para um amigo como ele interpretava as palavras de Atos 13.48: “creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna”. Ele disse “oh, eu interpreto isso à luz de todos os outros textos bíblicos que ensinam que o homem tem o poder final de escolha”. Então eu perguntei “Como assim? Você poderia me dar um exemplo de um texto desses?”. Ele disse “Bem, não, mas está implícito em todos os lugares”.
O que se torna claro depois de uma pequena discussão foi que ele ASSUME, ele PRESSUPÕE que você não pode ter explicação sem a auto-determinação do homem, tanto que em todo lugar que vê explicação na Bíblia, ele vê o poder final da auto-determinação do homem.
Nós somos apresentados a uma escolha crucial: iremos deixar a Bíblia nos ensinar coisas que são estranhas ao nosso modo de pensar? Ou iremos jogar nossas idéias pré-concebidas no texto e dizer “Assim não pode ser. Isso não se encaixa com minhas suposições”?
- As doutrinas da eleição incondicional, predestinação e chamado eficaz tendem a eliminar todo orgulho, soberba e auto-confiança. Eu já discuti muitas vezes com outros teólogos que dizem “você não precisa lançar fora a auto-determinação final para tirar o orgulho. Tudo o que você precisa fazer é insistir na FÉ para salvação ao contrário de obras meritórias”. Eles argumentam a partir de Romanos 3.27 que a fé exclui o orgulho. Então você não precisa dizer que a fé é um dom a fim de eliminar o orgulho, a soberba e a auto-confiança.
Minha resposta tem duas partes. Primeiro, eu não me sinto dirigido pela lógica para chamar a fé de dom com o objetivo de cortar meu orgulho; eu me sinto dirigido pela exegese. O Novo Testamento ensina que nós estamos mortos em nossos pecados e devemos ser chamados de forma eficaz. A fé ordenada também deve ser criada se alguém tem de ser salvo. Eu não insisto nesta idéia porque eu acho que é um bom meio de destruir o orgulho. A Bíblia ENSINA isto. E isto ajuda a sobrepujar o orgulho.
Em segundo lugar, eu acho que a razão pela qual uma genuína fé neotestamentária elimina nossa vaidade é que é uma confiança em Deus; não apenas pela provisão da salvação na cruz, mas também por aplicar a salvação em meu coração. Em outras palavras, minha fé não diz apenas “Eu escolho crer em Cristo”. Ela também diz “Eu escolho crer que Deus Pai me levou a Cristo e me deu o desejo de crer em Cristo” (João 6.44,65). Ou, falando de outra maneira, a fé repousa em toda a verdade bíblica, não apenas em uma parte dela. A fé elimina todo orgulho, soberba e auto-confiança precisamente a ponto de que é uma fé que Deus fez por nós o que não poderíamos fazer por nós mesmos – o que inclui a vontade de crer. A fé crê num Deus que fez tudo na salvação, não apenas uma parte da salvação. E a salvação inclui nosso chamado eficaz que criou nossa fé.
Você estava se afogando e o Filho de Deus jogou um tubo de respiração ao seu lado. Você nadou vigorosamente até ele, e pôde chegar à margem, então você deveria agradecê-lO. Você não ganha crédito algum pelo tubo de respiração.
Mas suponha que você tem sido um inimigo de longa data dEle, e você estava morto no fundo de um lago. Ele te encontrou, te trouxe à superfície e se esforçou tanto para te trazer à vida, que terminou exausto ao seu lado e morreu. Então, suponha que, quando você se ajoelhou sobre o corpo, com lágrimas de amor descendo por sua face, você ouve uma voz vinda do céu dizendo: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo. Levante-se, meu Filho!”. Ele se levanta e aproxima-se, te olha com a mais profunda afeição que você já viu. Toma sua mão e lhe puxa firme e gentilmente para seu lado e diz: “Siga-me, e eu farei todas as coisas cooperarem para seu bem pelo resto de sua vida”.
Qual é a sua idéia de como você foi salvo? Pode ser que muitos dos problemas de sua vida se devem ao fato de que você nunca entendeu como foi salvo.
- As doutrinas da soberania de Deus tendem a produzir humildade, submissão e paciência entre todos que as abraçam. Efésios 4.1-2 diz “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”. Uma das razões pelas quais um chamado altíssimo produz uma caminhada submissa é que a decisão de Deus de nos chamar ao Seu Reino não se deve a absolutamente nada em nós mesmos.
Uma vez que está gravada em seu coração a certeza de que Deus o escolheu para a salvação antes que você cresse ou tivesse feito alguma coisa pra isso, sua tendência a se orgulhar ante as outras pessoas será cortada pela raíz. “Que tens tu que não tenhas recebido?”, Paulo diz. “E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” (1 Coríntios 4.7).
- Se a doutrina da soberania de Deus é verdadeira, então Ele realmente pode cumprir sua aliança de escrever Sua lei em nossos corações (Jeremias 31.33), nos fazer caminhar nos Seus estatutos (Ezequiel 36.27) e nos conformar à imagem de Seu Filho (Romanos 8.29). Se Deus desse o poder final à nossa auto-determinação, Ele talvez não fosse capaz de cumprir Suas promessas de que um dia haveriam pessoas que realmente O obedeceriam.
Se todas as pessoas no mundo realmente tivessem o poder de determinação final e decidissem usá-lo para se rebelar contra Deus, Ele nada poderia fazer sobre isso. O único meio que a promessa de Deus de um povo com novos corações de obediência pode ser garantida é dizer que Deus sobrepujará a auto-determinação pecaminosa das pessoas, dará a elas novas corações e as fará caminhar em Seus caminhos. E assim, a doutrina do chamado eficaz de Deus, baseada em sua eleição incondicional é o grande fundamento da nossa confiança de que Ele cumprirá para nós as promessas da nova aliança: “E lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias” (Jeremias 32.39).
- Também a promessa missionária de que um dia haverão crentes de toda tribo, língua, povo e nação adorando a Deus no Reino – esta promessa não teria garantia se a salvação repousasse definitivamente nas mãos da auto-determinação dos seres humanos. O fato de Deus ter o direito e o poder de chamar eficazmente quem Ele desejar, de todo grupo étnico da Terra, é a sólida fundação de nossa confiança de que a Grande Comissão não será frustrada pela dureza do coração humano. As doutrinas da graça são a dinamite de Deus nos lugares difíceis da evangelização mundial.
- A soberania de Deus na salvação fortifica a verdadeira segurança do crente. Se você acredita que Deus te escolheu desde toda eternidade, que Ele te predestinou para partilhar a glória de seu Filho e que Ele então trabalhou miraculosamente para te chamar da morte para a vida, fazendo você crer em Cristo, então sua confiança de que Ele é por você e completará a obra de Sua salvação, que foi planejada eras atrás, é simplesmente tremenda.
Mas se você apenas acredita que Deus definiu um caminho geral de salvação sem qualquer indivíduos particulares em vista e que, assim, você poderia ser parte desta salvação ou não, então sua segurança descansará numa fundação fraquíssima. Eu tenho como algo muito precioso saber através de Deus que minha vida eterna é baseada em Sua decisão pessoal eterna de me dar uma porção na glória de Seu Filho e que minha grande fé é parte de Seu esforço onipotente para cumprir este propósito para mim. Que segurança maior pode existir?
- O trabalho do pregador é indispensável e invencível. Paulo diz em 2 Tímoteo 2.10: “ Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna”.
Os escolhidos definitivamente OBTERÃO salvação: aos que conheceu de antemão, a estes também predestinou; aos que predestinou, a estes também chamou; aos que chamou, a estes também justificou e aos que justificou, a estes também glorificou. Ninguém pode enganar os escolhidos (Mateus 24.24). Portanto, a pregação é invencível.
Entretanto, Deus ordenou que a forma pela qual os eleitos serão preservados do erro e da incredulidade e também obter salvação é através da pregação da palavra e por oração. Assim, Paulo diz que ele tudo sofre por amor dos escolhidos, para que eles alcancem a salvação. A pregação de Paulo é o meio escolhido por Deus para preservar a fé dos eleitos pela edificação da palavra. A pregação aos eleitos é indispensável – está a forma ordenada por Deus para sustentá-los até o fim; e a pregação é invencível – a ovelha sempre ouve a voz do verdadeiro pastor e responde.
- A não ser que você aceite a doutrina da eleição incondicional, da predestinação e do chamado eficaz, você nunca compreenderá plenamente o significado da graça e nunca dará a Deus a glória da qual Ele é digno.
Nós a chamamos de “graça soberana” porque graça não é meramente uma oferta de salvação; é também um poder que salva. Paulo deixa isto muito claro em Efésios 2.5,6. “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (PELA GRAÇA SOIS SALVOS), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus”. A razão de Paulo inserir esses parênteses foi ensinar-nos que a graça é um poder que ressuscita os mortos e, portanto, é TOTALMENTE imerecida.
Nós nunca sentiremos a maravilha completa da graça até que desistamos da nossa idéia de que damos a palavra final em nossa salvação. Nunca seremos sinceros em relação à soberania de Deus em nossas vidas e daremos a Ele toda a glória por nossa salvação até que reconheçamos que somos tão inúteis que Ele teve de fazer tudo.
Lucas nos conta uma história sobre Herodes no livro de Atos. Um dia, ele vestiu seus trajes reais, tomou seu lugar no trono e fez um discurso aos visitantes de Sidom e Tiro. O povo, querendo agradar Herodes, começou a gritar “voz de Deus, não de homem”. Lucas diz que imediatamente um anjo do Senhor o feriu, porque ele não deu glória a Deus; ele foi comido por vermes e morreu (Atos 12.23).
Diante disso, eu pergunto: se a ira de Deus se voltou contra um homem que não deu glórias a Ele por algo tão pequeno como o dom da oratória, quão grande é o perigo sobre as cabeças daqueles que se recusam a glorificar o Senhor pelo muito maior dom da fé?
Fonte: What we believe about the five points of calvinism, Desiring God.
Traduzido por: André Scordamaglio