Neste artigo estudaremos alguns versículos da Bíblia referentes à contagem de anos, para que vejamos o que Deus diz a respeito disso e como Ele contabiliza nossa idade.
Leitura Bíblica:
“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios“. Salmos 90:12
“O SENHOR conhece os dias dos retos, e a sua herança permanecerá para sempre. Não serão envergonhados nos dias maus, e nos dias de fome se fartarão“. Salmos 37.18-19
“Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta.
Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando.
Quem conhece o poder da tua ira? Segundo és tremendo, assim é o teu furor.
Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.
Volta-te para nós, SENHOR; até quando? Aplaca-te para com os teus servos.
Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias.
Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal.”
Salmos 90:9-15
Duas Genealogias
Em Gênesis, capítulos 4 e 5, há duas genealogias: o capítulo 4 trata da genealogia de Caim e o capítulo 5, da genealogia de Sete. Adão teve três filhos bem conhecidos: Caim, Abel e Sete, e gerou outros além desses. Abel morreu ainda jovem, por isso não tem genealogia. Os outros dois têm sua genealogia registrada na Bíblia. Nos capítulos 4 e 5 podemos ver duas linhas de pessoas e suas gerações, uma após a outra; uma linha procede de Caim, contendo Lameque, Tubalcaim etc, e outra começa em Sete, que inclui Abraão, Moisés e Cristo.
Podemos observar que as genealogias destas duas famílias são registradas sempre de maneira semelhante: alguém gerou alguém, que gerou outra pessoa… No entanto, há algo bem diferente nos dois registros. Enquanto o capítulo 4 somente diz: “Caim gerou Enoque e a Enoque nasceu-lhe Irade”, sem relatar quantos anos Caim viveu ou quantos foram os seus dias, o capítulo 5, entretanto, registra não só quem gerou, como também com que idade morreu. O capítulo 4 não registrou a idade das pessoas mencionadas (não por esquecimento do autor), mas o capítulo 5 o fez claramente: quem gerou quem, com que idade, quantos anos viveu depois disso e, ainda, o total dos anos que viveu na terra. Adão também foi colocado no capítulo 5 como tendo vivido novecentos e trinta anos. De Adão a Sete e deste até Noé, o registro foi feito dessa forma clara. Essa é a grande diferença dos registros nos dois capítulos.
Qual é a razão dessa diferença? É porque aos olhos de Deus Caim não tem anos a serem contabilizados. Talvez ele tenha se casado aos cinqüenta anos, gerado filhos aos sessenta e falecido com seiscentos anos, porém Deus não os considerou. Simplesmente os ignorou. Aos olhos de Deus este homem nunca viveu; mesmo enquanto vivia, ele estava morto. Por isso, somente seu nascimento foi registrado (que eqüivale à morte) e não sua morte. Já que, para Deus, ele não viveu, então não tem números para contabilizar e, também não morreu.
Que tipo de pessoa essas do capítulo 4 representam? Representam todos os que não nasceram de novo, os que estão mortos em Adão, os que não têm vida eterna, portanto não têm contagem de anos. As do capítulo 5, por sua vez, representam os que estão em Cristo. O significado do nome Sete é “substituto”, porque Abel morrera e Sete veio para substituí-lo; por essa razão representa os que nasceram de novo, os que têm anos contabilizáveis.
Mudar o Mês
Outro versículo relacionado a esse assunto é Êxodo 12:2, que diz: “Este mês vos será o principal do meses; será o primeiro mês do ano”. Deus disse para o povo de Israel para contar como primeiro o mês em que estavam. Você já ouviu falar em mudar o mês? Suponha que esteja no mês de outubro e o mude para janeiro, o primeiro. Por que mudaram o mês? Porque o povo de Israel saiu do Egito, o Cordeiro Pascal foi imolado e o povo foi libertado das mãos de Faraó. Este é o início da história espiritual.
Caro leitor, você tem uma história espiritual? Pode ser que você já tenha idade avançada, com filhos e netos, mas quero perguntar: “Você nasceu de novo?” Se não, quero dizer-lhe que para Deus você não tem nem o primeiro mês espiritual!
Enquanto o povo de Deus não saiu do domínio de Faraó e não pintou com sangue a verga e ombreiras das portas, libertando-se do castigo de Deus, diante Dele eles não tinham o primeiro mês. Portanto, a história espiritual tem por início o sangue. Lembre-se de que o dia em que receber o sangue será seu início.
Se esse dia ainda não chegou, você ainda não tem idade. Sempre perguntamos às pessoas: “Quantos nascimentos você tem?” Se houve apenas um, eu temo por você, pois é necessário que você tenha o segundo nascimento. Temo que entre os que estão lendo este livrete, haja os que têm apenas um nascimento. Esses não têm o primeiro mês, assim como Caim, não têm anos contados diante de Deus. Mesmo que ele tenha vivido quinhentos ou setecentos anos e realizado muitas coisas, nada disso tem valor. Note que enquanto o povo de Israel permaneceu no Egito, Deus não contou seus dias. Quando saíram do Egito, aquele foi considerado o primeiro mês. Por isso, a idade espiritual somente se inicia com o novo nascimento — a salvação.
Um dia, conversando com um irmão, perguntei: “Por que Paulo estabelecera Timóteo quando este era jovem? Um presbítero não deve ser idoso e experimentado? Como pôde estabelecer uma pessoa jovem? Isso não estava correto. Como Timóteo pôde ser presbítero?” Lembre-se de que a contabilidade de Deus é diferente da humana. Você pode ter sessenta anos, mas somente um mês diante de Deus, ou pode ter vinte anos, porém já ter dez anos perante Deus. A contagem inicia-se com a salvação, pois antes disso não há nada contabilizado. Neste livrete, porém, minha ênfase não está em Deus não contar nossos dias antes da salvação; por isso, não me estenderei mais a esse respeito.
Nem Todos os Dias São Contados
Quero falar algo aos que já creram no Senhor: não somente os anos antes de você crer no Senhor não são contabilizados, como também nem todos os seus dias, depois de ter crido no Senhor, são contados. Talvez você tenha crido no Senhor há cinco anos, mas certamente não terá cinco anos. Lembre-se de que uma coisa é ano cronológico e outra é idade espiritual. Isso pode não ser compreensível para o mundo, mas é um fato espiritual: você pode ter vivido cinqüenta anos e, ainda assim, não ter cinqüenta anos de idade espiritual.
Noventa e Três Anos
Vamos ler alguns versículos com atenção, a fim de entender como Deus conta os dias. Leiamos primeiramente Atos 13:18-22, e verifiquemos quantos anos há entre o êxodo do povo de Israel e a construção do santuário por Salomão: “E [Deus] suportou os seus costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos (…) E, depois disto, por quase quatrocentos e cinqüenta anos, lhes deu juizes, (…) e Deus lhes
deu por quarenta anos, a Saul (…)quando este foi retirado, lhes levantou como rei a Davi [por quarenta anos]” (1 Cr 29:27 – VRC) Pergunto:quantos anos somam? Quarenta mais quatrocentos e cinqüenta somam quatrocentos e noventa anos, mais duas vezes quarenta anos resultam em quinhentos e setenta anos; somando-se mais três anos do reinado de Salomão até a construção do santuário, totalizam quinhentos e setenta e três anos. Portanto, desde o êxodo até o início do quarto ano do reinado de Salomão, somam-se quinhentos e setenta e três anos.
Leia agora 1 Reis 6:1: “No ano quatrocentos e oitenta, depois de saírem os filhos de Israel do Egito, Salomão, no ano quarto de seu reinado sobre Israel, no mês de zive (este é o mês segundo), começou a dificar a Casa do SENHOR”. Aqui são mencionados quatrocentos e oitenta anos e não quinhentos e setenta e três anos. Estão faltando muitos anos. A diferença é de noventa e três anos. Se o registro de Atos estiver correto, então, o de 1 Reis deve estar errado. Como pode haver diferença tão grande? Ambos começam a contagem no êxodo e terminam na construção do santuário; portanto, deve haver erro em um dos registros ou em ambos.
Mas, na verdade, nenhum deles está errado; ocorre que em um dos registros há a aplicação do princípio espiritual de que falamos. Vejamos em Atos: os quarenta anos no deserto após o êxodo estão corretos, os quarenta anos de Saul também e os quarenta anos de Davi também estão certos. Começou-se a construção do templo no início do quarto ano do reinado de Salomão, portanto temos mais três anos. Todos estes anos estão corretos, pois foram anos em que os judeus dominavam. Entretanto, na época dos juizes, o povo de Israel foi levado cativo várias vezes. Vejamos agora, então, por quantos anos eles perderam o domínio da nação. Juizes 3:8 registra: “A ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e ele os entregou nas mãos de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos”. Essa foi a primeira vez que perderam a nação, e durou oito anos.
A segunda vez está registrada no versículo 14 do mesmo capítulo: “Os filhos de Israel serviram a Egrom, rei dos moabitas, dezoito anos”, e em 4:2, 3 lemos: “Entregou-os o SENHOR nas mãos de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor. Sísera era o comandante de seu exercito, o qual, então, habitava em Harosete-Hagoim. Clamaram os filhos de Israel ao SENHOR, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro e, por vinte anos, oprimia duramente os filhos de Israel”. Esta pode ser considerada a terceira vez, pois no meio do povo de Israel não havia juizes, e estavam eles totalmente sob as mãos dos gentios. Em 6:1 há outro registro: “Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o SENHOR; por isso, o SENHOR os entregou nas mãos dos midianitas por sete anos”. Essa foi a quarta vez, e durou sete anos. Há ainda o registro do último cativeiro em 13:1: “Tendo os filhos de Israel tornado a fazer O que era mau perante o SENHOR, este os entregou nas mãos dos filisteus por quarenta anos”. Portanto, os filhos de Israel perderam a liberdade e a nação, e serviram às nações gentias por cinco vezes. Quantos anos isso durou? Somando-se oito anos mais dezoito, mais vinte, mais sete e mais quarenta, temos exatamente noventa e três anos! Vemos a partir desse fato que Paulo incluiu esses noventa e três anos, mas o registro de 1 Reis não os contou. Em 1 Reis há apenas quatrocentos e oitenta anos que, na verdade, perfazem quinhentos e setenta e três anos. Por que noventa e três anos não foram contabilizados? Há um motivo: foram anos perdidos.
Tempo Perdido
Quando estamos em cativeiro, quando estamos sujeitos aos gentios e não temos juiz, nesse período não há anos contabilizáveis. O que estamos vendo agora é um passo a mais em relação ao que vimos anteriormente: não somente antes de nascermos de novo estávamos mortos, sem dias contados diante de Deus, como também, após recebermos a vida eterna, muitos dias e anos são mortos diante Dele.
Mesmo que você já pertença a Deus, seja alguém salvo, mas se for levado cativo e enredado pelo mundo, se for levado até Moabe para ali viver como escravo, não tendo liberdade para servir a Deus, esse tempo em que você não pode ser chamado de filho de Deus não é contado por Ele. Toda vez que você estiver obedecendo ao homem, servindo-O no lugar de Deus, esse tempo será perdido. Devemos contar quantos são os dias, após sermos salvos, que pertencem a nós mesmos, em que vivemos em liberdade sem sermos escravizados pelos homens: esses são verdadeiramente válidos perante Deus. Em outras palavras, talvez você tenha crido no Senhor há cinco, oito ou dez anos, mas nesses anos todos, quanto tempo você viveu insensatamente? Quantos desses anos devem ser descontados? Nós perdemos tempo demais!
Não sabemos se dentre tantos anos o tempo contado diante de Deus chega a um ano. Todos os anos que vivemos segundo nossa própria vontade, segundo a vontade do homem, são anos esquecidos. Vamos perguntar a nós mesmos: “Será que tenho dias perante Deus? será que comecei a viver o primeiro mês?” Esta é a primeira pergunta. A segunda, que devemos fazer agora, é: “Eu nasci de novo; no entanto, temo que nesses anos tenha deixado passar muito tempo em branco. Quantos dias foram contabilizados por Deus?” Todo o tempo que vivemos em servidão e sem comunhão com Deus são dias perdidos. Talvez tenhamos crido no Senhor há oito ou dez anos, mas ainda somos iguais ao tempo em que nascemos – não houve qualquer progresso. Afinal, quantos dias realmente temos diante de Deus? Essa é uma questão extremamente importante.
Lembre-se do que Paulo disse aos coríntios: “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e, sim, como a carnais, como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais”. Essa afirmação significa que eles perderam muitos dias. Eram como uma criança velha: velhos na idade, mas ainda crianças. Deveriam ter crescido, e não cresceram. Perderam muitos anos, pois deveriam ser como um varão forte, trilhando impávidos o caminho, alimentando-se de alimento sólido, entretanto, viveram tantos anos em vão, como carnais. No tocante a andar no caminho da obediência ao Senhor, a confiar em Deus, já deveriam ser experimentados a ponto de ensinar a outros; porém, até então, eles mesmos não tinham conhecimento. Por isso, o apóstolo Paulo disse que, mesmo depois de nascermos de novo, muitos dos nossos anos podem não ser contados e continuarmos crianças.
Desocupados
Vamos recordar-nos da parábola dos trabalhadores na vinha. O Senhor saiu várias vezes para procurar trabalhadores. “Saindo pela terceira hora, viu outros que estavam ociosos na praça, e disse-lhes: Ide vós também para a vinha”. Ocioso é estar parado, sem fazer nada. O Senhor quer que você trabalhe. Quando Ele saiu à hora undécima, ou seja, entre quatro e cinco da tarde, Ele viu que havia mais pessoas paradas e disse-lhes: “Por que estivestes aqui ociosos o dia todo?”
Que significa essa passagem? Nós sabemos que é uma parábola, dizendo-nos que Deus tem uma esfera, um limite determinado de trabalho: a vinha. Todos os que estão do lado de fora são ociosos. Não importa o que você esteja fazendo lá, o simples fato de estar do lado de fora significa que você está ocioso. Você pode ter sido Presidente da República por muitos anos, ou um professor durante anos, ou tem sido um bom pai de família por algumas dezenas de anos, ou uma boa mãe por anos, ou tem sido um bom pastor, mestre ou missionário por toda a vida, ou tenha dedicado sua vida a trabalhar afanosamente pela igreja, pelo evangelho, pela expansão do reino ou fez muitas coisas na sociedade – mas aos olhos de Deus você é um ociosa. Será que uma pessoa assim está realmente ociosa, sem fazer coisa alguma? Não. De modo geral, as pessoas no mundo estão trabalhando. Algumas trabalham pelo pão, pelas vestes e demais necessidades; outras, por serem ricas, talvez não precisem trabalhar por suas necessidades, mas estão ocupadas divertindo-se. Por isso, alguns pelo prazer da comida, outros pelos divertimentos, todos estão ocupados. Mesmo entre os que creram no Senhor, muitos são fervorosos em trabalhar para Ele. A quem, então. Deus se referiu como “ociosos”? Para Ele, todos os que trabalham fora da vinha são desocupados. Toda a obra, atividade e labor fora da vontade de Deus são vãos!
Provavelmente, você esteja extremamente ocupado com uma obra espiritual; mas Deus irá dizer-lhe com toda a calma: “Por que você está tão ociosos? As obras fora da vinha não são Minhas!” Por esse motivo, aos olhos de Deus, você está muito desocupado, pois somente aquilo que está dentro da vinha é de Deus. O problema todo é se a obra veio realmente de Deus e se vai para Ele. Se for fora da vontade de Deus, todos os anos gastos não são contabilizados por Ele. Foi isso que o Senhor disse aos da hora undécima: “Por que estivestes aqui ociosos o dia todo?” Provavelmente há quem tenha vivido toda a vida dezenas de anos que não foram contados, pois “o dia todo” refere-se à vida toda. Portanto, leitor, e você?
Isso não quer dizer que todos devem demitir-se do emprego para pregar a Palavra, pois Deus não ordenou que fizéssemos isso. O mais importante é que cada um de nós, não importa o que façamos, saiba que a posição em que está ê realmente de acordo com o propósito de Deus. Tudo fazemos visando ao propósito de Deus em tudo, seja a vinha nosso centro. Na vinha há trabalho de todas as formas, não são todos iguais. Provavelmente, alguns cavem a terra, outros semeiem e outros cortem. Não importa o que se faça, desde que seja para a vinha. Certo trabalho pode ser sujo, como manusear adubo, outro é mais limpo como colher uvas; por isso, não pense: “Se eu fosse igual àquela pessoa, aí, sim, estaria fazendo a obra de Deus” ou “Preciso fazer aquele tipo de trabalho; aquele, sim, é válido”. Não é assim; tudo o que você fizer na vinha será válido.
Permita-me perguntar: Talvez você tenha sido salvo há três, cinco, cinqüenta ou sessenta anos. Mas, afinal, quantos desses anos você gastou para Deus? Quanto esforço e dinheiro você dedicou a Deus? É certo que deva trabalhar, mas para quem tem trabalhado? Podemos ter atividades seculares, desde que saibamos que elas estão realmente no propósito de Deus. Lembre-se de que Deus nunca disse como trabalhar na vinha. Talvez haja quem trabalhe integralmente na obra de Deus e, no entanto, essa não é a vontade de Deus que, pelo contrário, quer que essa pessoa tenha um trabalho secular.
Portanto, a questão toda está em seu coração e na vontade de Deus.
Desse modo, a consagração é imprescindível. Se você foi salvo pelo Senhor e não se consagrou a Ele, ao final da vida não será considerado como quem trabalhou para Ele. Se, do dia da sua salvação até hoje, no tocante a conduzir pessoas para Deus, você não moveu um dedo, então, é um desocupado. Essa é a maneira certa de contar o tempo, pois todos os dias que vivemos para nós mesmos, os dias em cativeiros e pecados, Deus não contabiliza.
Há quantos anos vivemos na terra? Setenta ou oitenta? Temo que mesmo esses sejam poucos. Você conhece cristãos de cem anos? Talvez não existam. Nesse tempo já tão curto, subtraindo ainda os anos antes da salvação, quantos ainda restam? Amigo leitor, você sabe por quantos anos ainda irá viver? Naquele dia, talvez já com mais de sessenta anos. Deus provavelmente lhe dirá: “Você viveu diante de Mim menos de dez anos. Você viveu apenas alguns dias: todos os outros foram esquecidos”. Vamos contar nossos próprios dias corretamente! Vamos usar bem o tempo que nos resta!
Treze Anos
Vou citar mais um ponto. Esse fato não foi relatado apenas no Novo Testamento, mas há exemplos também no Antigo Testamento. Abraão foi um deles. Segundo Atos 7, quando Abraão estava em Ur dos caldeus, na Mesopotâmia, Deus lhe apareceu dizendo: “Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te mostrarei”. Que fez ele? Se não obedecesse, não teria paz no coração, mas se obedecesse não teria muita alegria interior. Por essa razão, ele foi somente até Harã, como um cristão que parou no meio do caminho. Ele não foi sozinho: levou ainda o sobrinho Ló e também seu pai. Deus disse para sair da parentela, e ele levou até animais junto com ele. Deus disse para ir até Canaã, mas ele foi somente até a fronteira. Ele foi um cristão de fronteira. Há muitos cristãos que podemos chamar de frios, mas ainda neles há um pouco de calor, e os que podemos dizer que são quentes, não o são de todo. Abraão também era assim: saiu de Ur dos caldeus, chegou à fronteira da terra de Canaã, mas não entrou. Hoje há quem pense: “O mundo não me considera tão espiritual e também, como cristão, não sou tão mundano”. Isso é ser um cristão de fronteira.
Vemos que, mais tarde, após a morte do pai. Deus outra vez o chamou (Gn 12). Desta vez. Deus não chamou Abraão em Ur, pois este já estava em Harã. O mandamento de Deus jamais se abala! Uma vez que Ele tenha falado, assim será para sempre. Deus ordenou a Abraão para ir até a terra de Canaã, e não mudara de propósito pelo fato de ele ter ficado em Harã. Deus, então, chamou-o pela segunda vez, e Abraão teve de caminhar. É interessante que quando partiu de Harã, a Bíblia registrou que ele tinha setenta e cinco anos (Gn 12:4). Quando estava em Ur não houve registro, tampouco quando habitou em Harã, mas somente depois que saiu de Harã e entrou em Canaã é que houve o registro dos seus setenta e cinco anos, mostrando-nos, assim, o início dos seus anos. Todos os que estão no meio do caminho, na fronteira. Deus não conta. É necessário que você se submeta totalmente! Os dias em Harã são dias perdidos, esquecidos. Se quiser ter a bênção de Deus, você precisa sair de Harã. Todas as coisas em que há interferência do ego não são contabilizadas por Deus. Não sei quantos anos perdi; quando recordo minha história passada, realmente não sei quantos dias são amaldiçoados. Deus não dá atenção a coisa alguma que haja em Harã. Quanto tempo Abraão passou insensatamente, fazendo coisas contra a consciência, agindo segundo a vontade própria, tanto tempo vivendo preguiçosamente, somente gozando de conforto: tudo isso é Harã. Todos esses dias perdidos não voltam. O início de Abraão foi a partir dos setenta e cinco anos.
Entretanto, o que Abraão perdeu não foram apenas dias, pois algo mais aconteceu no capítulo 16. No 15, Deus lhe fizera a promessa de lhe dar um filho. No 16, por ter aceito a sugestão da esposa, Abraão cometeu um pecado moral. A intenção de sua esposa era boa: pensando em ajudar Deus a atingir Seu objetivo. Sara trouxe a Abraão sua serva Hagar, à qual, posteriormente, nasceu um filho, obtido pela força da carne e não dado por Deus. Por esse motivo, no fim do capítulo 16 foi registrado que Abraão tinha oitenta e seis anos e, maravilhosamente, logo no primeiro versículo do capítulo 17, diz-se que tinha noventa e nove anos. Houve um lapso de treze anos. Nesses treze anos não foi registrado nenhum acontecimento, não se viu sequer um altar (o que Abraão fazia freqüentemente), não houve aparição de Deus, nenhuma nova revelação nem qualquer nova promessa. Aqueles foram os dias em que Ismael crescia. Que cada um de nós guarde firmemente isto: tudo o que se fizer segundo a própria vontade e segundo a carne não é válido para Deus, e se perderá. Na segunda vez em que apareceu a Abraão, Deus contou sua idade a partir de noventa e nove anos. Os treze anos que se passaram nesse ínterim, Abraão os viveu em vão, foram esquecidos por Deus, perdidos e não contabilizados.
Perguntemo-nos: nesses anos tivemos novas experiências, nova luz na Palavra, novas mensagens? Nestes anos houve alguma pessoa que tenha sido salva por nossas mãos? Temos genuinamente ajudado alguém? Nestes muitos anos, será que conhecemos mais a Deus? Obtivemos nova convicção quanto à promessa de Deus? Temos tido nova consagração para Deus? Tem havido, para mim, um novo altar? Lembre-se de que, se essas coisas não têm acontecido, esses foram anos perdidos. Uma irmã bastante idosa, certa vez, disse: “Para mim, um cristão deve usar um dia como um dia. Essa é a forma de ganhar galardão! Muitas vezes, mesmo juntando dez dos nossos dias, ainda assim não dão nem um dia”. Se vivermos cada dia adequadamente, tudo estará bem. Lembre-se de que isso é para ser praticado dia a dia, e não pode ser negligenciado. Se desde a manhã até a noite vivermos confusamente, em desobediência e em pecados, agindo segundo nossa própria vontade, esse tempo, na visão de Deus, é gasto em vão; nós desperdiçamos nossos dias, o que é uma pena.
Por que Deus registrou o fato de Abraão ter noventa e nove anos? Abraão foi circuncidado naquele ano, pois chegara o momento de receber a circuncisão. Como conseqüência, no ano seguinte nasceu-lhe Isaque. O significado da circuncisão é o eliminar da carne. Portanto, enquanto não eliminarmos o ego e tudo o que pertence à carne, os dias não são contados. Por essa razão é que os dias de Abraão começaram a ser contados novamente a partir dos noventa e nove anos, quando recebeu a circuncisão. Hoje existem muitos cristãos que são desleixados, não dando a devida importância ao seu viver. Mas vamos, a partir de hoje, eliminar tudo o que é da carne e colocar tudo sobre o altar, para não mais perder tempo. Todo aquele que já foi salvo pelo Senhor, que já tem a vida divina, comece a contar seus dias diante de Deus, ganhando com diligência todo o tempo. E verdade que todos aguardamos ansiosamente a vinda do Senhor; porém, se Ele tardar, vamos ter de contar dia após dia. Não permita que, passados cinqüenta anos, você tenha desperdiçado quarenta e nove. Pensemos em todos os anos que se passaram insensatamente, e não desperdicemos o tempo que ainda nos resta, cuja duração não conhecemos. Por isso, despertemo-nos! Atentemos para o exemplo de Abraão: tantos anos perdidos! Como seria bom se tal fato não tivesse acontecido.
Onze Dias ou Trinta e Oito Anos
Outro ponto significativo é a respeito da jornada dos filhos de Israel no deserto.
Recordemos que o povo de Israel gastou,no total, dois anos do Egito até Cades, conforme registrado de Êxodo 12 a Números 13. Naquela ocasião, por não terem crido em Deus, não entraram em Canaã, e somente depois de terem caminhado por outros trinta e oito anos é que entraram na boa terra. Por isso, quando deveriam levar apenas dois anos, gastaram trinta e oito anos. A partir do monte Horebe deram uma volta enorme, voltando ao mesmo lugar. Vemos em Deuteronômio (1:2) que, partindo do monte Horebe, passando pelo monte Sinai até Cades-Barnéia, a jornada é de aproximadamente onze dias. No entanto, eles andaram por trinta e oito anos. Esta volta foi extremamente grande. Para uma jornada de onze dias, foram gastos trinta e oito anos, não apenas três ou cinco anos. Deram voltas, sem começo nem fim. Essa é a experiência de muitos cristãos: algumas questões que poderiam ser resolvidas em três ou cinco dias, não são resolvidas nem mesmo após três ou cinco anos.
Ao que tudo indica, o tempo decorrido entre a primeira ida de Paulo a Corinto para pregar a Palavra e o envio da Primeira Epístola aos Coríntios foi de alguns poucos anos. Nesse ínterim, Paulo esperava que eles já fossem espirituais e crescidos, porém, após aqueles anos, ele os viu ainda crianças. Paulo parecia estar decepcionado, pois já se havia passado tanto tempo, vários anos! Pode-se ver que, aos olhos de Paulo, para
se tomar espiritual não é preciso gastar muito tempo, mas três ou cinco anos são suficientes. Como nós aplicamos isso? Ao vermos um cristão vivendo seus dias tão insensatamente, dizemos que ele creu no Senhor há apenas três ou cinco anos e, por isso, não se pode culpá-lo, ou que, por ele ter crido no Senhor há apenas oito anos, como lhe seria possível viver de outra forma? Paulo, porém, via isso de modo totalmente diferente: um ano deve ter o aspecto de um ano e gastar três ou cinco anos é excessivo, é totalmente indevido. Uma pessoa, do momento de sua salvação até crescer plenamente como homem espiritual, deveria gastar apenas três ou cinco anos. Infelizmente, hoje há muitos que chegam aos cinqüenta anos e continuam como um bebê: nunca se consagram, ainda não sabem o que é caminhar, o que é buscar a vontade de Deus ou ter comunhão com Ele; ainda não podem ajudar outros, não lêem a Bíblia; ainda não aprenderam como obter a luz e como se agarrarem à promessa de Deus. Muitos despenderam trinta e oito anos numa jornada de apenas onze dias — todos esses anos são esquecidos e perdidos!
Toda vez que penso nisso, sinto uma tristeza insuportável. Mas dou graças a Deus, pois no meio dessa decepção, Ele me deu um conforto: em Joel 2:25, lemos: “Restituir-vos-ei os anos que foram consumidos pelo gafanhoto migrador, pelo destruidor e pelo cortador, o meu grande exército que enviei contra vós outros”. Graças a Deus, Ele tem meios para nos restituir os anos devorados! Se você tiver sessenta anos e perdeu em vão trinta ou quarenta deles, provavelmente dirá: “Que farei, então? Não tenho mais oportunidade, pois não sei quantos anos mais ainda viverei! Os anos mais fortes foram devorados por Satanás, e os anos perdidos não voltarão, pois já não há tempo”.
Dois Testemunhos
Um famoso político inglês, William Ewart Gladstone (29 de dezembro de 1809 – 19 de maio de 1898) (primeiro-ministro britânico, 1868- 1894), em sua velhice, disse a um missionário: “Você ainda é jovem; eu o incentivo a sair do país para pregar a Palavra. Eu, infelizmente, já estou velho”. Embora tenha sido um personagem importante no palco da política, tenha sido como uma coluna, tenha gasto tanta força e tempo pela Inglaterra, ainda assim sentia dores no coração pelo tempo que passou. E como se ele tivesse dito: “Se eu tivesse três vidas, viveria todas elas para pregar a Palavra de Deus. Hoje já estou impossibilitado, pois o melhor tempo, o mais forte, foi consumido. Por isso, aconselho-o a correr pelo Senhor e por Seu evangelho”.
Houve uma jovem que, por causa de pecado, contraiu tuberculose. Foi internada e ficou quase à morte. Havia também um servo de Deus idoso que lhe foi pregar a Palavra, exortando-a a confessar os pecados, a arrepender-se e receber Jesus como seu Salvador, uma vez que o Senhor Jesus já carregara todos os pecados dela. No início, ela achava difícil que o Senhor perdoasse uma pecadora como ela. Porém, finalmente, ela aceitou o Senhor, foi salva e ficou muito alegre, com muita paz no coração. Passados alguns dias, o servo idoso voltou a visitá-la e a encontrou triste e angustiada.
Aquele irmão lhe perguntou: “Por que você está assim? Não permita que Satanás a engane!” Ela lhe respondeu contrita: “Eu estou deitada aqui quase à morte, e meus dias estão no fim. Quando estiver diante do Senhor, Ele dirá que ganhei a salvação; porém, que estou levando para Ele? Minhas mãos estão vazias! Não posso ver meu Senhor com minhas mãos vazias!” É verdade! Suponha que o Senhor nos leve hoje: que estaremos levando para Ele? Salvamos ao menos uma pessoa? Por isso, aquela irmã estava muito triste. O
velho servo lhe disse: “Irmã, não se preocupe; usarei suas palavras como tema para fazer um hino, aqui ao lado do seu leito, para incentivar as pessoas a pregarem a Palavra. Toda vez que alguém for comovido por este hino e pregar a Palavra, o galardão será seu”.
Conclusão
Um homem viveu dez anos na terra, mas talvez lhe seja contado apenas um dia; por outro lado, um dia também pode valer mil dias. Davi disse que um dia nos átrios do Senhor vale mais que mil (Sl 84:10). Por isso, nosso serviço a Deus não é vão. Os dias celestiais não são contados como as vinte e quatro horas de um dia. A contagem é espiritual, portanto, um dia nosso não significa necessariamente um dia nesta contagem.
Todos os que são pelo Senhor estão na luz, e todas as coisas sem Ele são cheias de trevas. Na Bíblia, há um versículo muito triste: “[Judas] tendo recebido o bocado, saiu imediatamente. E era noite” (Jo 13:30). Esse é o versículo mais negro. Judas saiu da presença do Senhor para traí-Lo. Isso são trevas eternas. A partir desse dia, essa pessoa não tem mais dia claro, está sem luz, só tem trevas. Apartar-se do Senhor é algo muito perigoso. Quando não houver o Senhor, haverá noite. Portanto, cada um de nós deve começar a contar e determinar como viver os dias de agora em diante. Espero que não somente deixemos de perder tempo, mas também façamos um dia valer mil, andando cada dia sem jamais parar, cada passo sendo dado na luz da vontade de Deus. Não espere mais! Quando permanecemos caídos, esse tempo é perdido! Não importa por que tenha caído, levante-se outra vez e ande.
Watchman Nee
Watchman Nee (倪柝聲 pinyin: Ní Tuòshēng, 4 de novembro de 1903 – 1 de junho de 1972) foi um influente líder cristão chinês no período anterior ao regime comunista, morrendo na prisão vinte anos depois, em 1972. Nee To-sheng ou Watchman Nee, o grande líder cristão chinês, nasceu numa província do Sul da China. Em sua juventude, provou ser um indivíduo dotado de grande inteligência e um futuro promissor. Ele foi consistentemente o melhor aluno da Faculdade Trinity, adquirindo excelente histórico acadêmico. Nee, naturalmente, tinha grandes sonhos e planos para uma carreira cheia de realizações.
Curtir isso:
Curtir Carregando...