Li o artigo do pr. Renato Vargens sobre “o dia em que Paulo não curou um enfermo” (leia-o clicando aqui), aonde o apóstolo seguiu viagem deixando Trófimo doente em Mileto (2 Tm 4:20). Tal relato da Escritura é contrário aos “papas da teologia da saúde perfeita”, um ramo da “teologia da prosperidade” que ensina que temos que orar DETERMINANDO a cura, e que Deus É OBRIGADO a curar imediatamente TODAS as doenças. Tem que DETERMINAR mesmo, pois até usar a expressão “seja feita a Tua vontade” anula a fé curativa! Em seu livro “O Direito de Desfrutar Saúde”, R. R. Soares declara: “Usar a frase ‘se for a Tua vontade’ em oração pode parecer espiritual, e demonstrar atitude piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas além de não adiantar nada, destrói a própria oração”, e outros “papas” da “teologia da prosperidade” confirmam isso!.
Mas o objetivo do pr. Renato foi tratar somente do caso de Trófimo, pois ele não falou de Timóteo, outro caso semelhante, a quem Paulo, incapaz de curá-lo, dá-lhe uma orientação: “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades” (1 Tm 5:23). Timóteo não somente tinha problemas de estômago (Gastrite? Úlcera?), mas tinha OUTRAS enfermidades, e estas eram FREQUENTES, e por isso Paulo prescrevia doses terapêuticas, medicinais, de vinho, provavelmente diluído em água… Paulo, igualmente, não conseguiu curar as enfermidades de Timóteo e nem “quebrar a maldição” que havia sobre ele que o levava a constantemente enfermar!
O pr. Renato também não falou de Epafrodito… Paulo relata em outra epístola: “Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão, e cooperador, e companheiro nos combates, e vosso enviado para prover às minhas necessidades. Porquanto tinha muitas saudades de vós todos, e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente; e de fato esteve doente, e quase à morte; mas Deus se apiedou dele, e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2:25-27). Surpreende-me, à luz da “teologia da saúde perfeita”, que Paulo não tenha dito no texto bíblico que fez a oração forte, a prece violenta, e o curou… O relato, pelo contrário, dá a entender que Deus curou Epafrodito quando todos a seu redor já não tinham mais esperança, quando ele estava “quase à morte”…
Se levássemos em consideração os ensinos dos que creem na saúde perfeita do crente, é quase certo que Paulo estava em pecado, ou sem autoridade para que Deus o ouvisse!
A própria vida de Paulo dá a entender que foi uma vida de enfermidades. Escrevendo aos Gálatas ele declara ter adoecido, e esta doença foi o motivo que levou ele à comunidade da Galácia e ali aproveitar a oportunidade para pregar o Evangelho (Gl 4.13). Paulo fala ainda de um problema pessoal, o conhecido “espinho na carne”, acerca do qual Paulo orou a Deus três vezes para que o livrasse dele, e a resposta do Senhor foi: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:7-10). Tem havido várias especulações sobre o que seria este “espinho na carne”. Alguns estudiosos do Novo Testamento chegam a associá-lo a uma possível enfermidade, um problema crônico nos olhos, pois Paulo escreveu aos mesmos gálatas, na mesma epístola, dizendo: “…se possível fora, teríeis arrancado os vossos próprios olhos para mos dar”, e ainda: “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho” (Gl 4:15; 6:11), demonstrando dificuldades na escrita, talvez por problemas de visão (o que mais explicaria o ato de escrever com letras grandes?).
Paulo não escrevia as suas cartas, mas ditava para um amanuense (escriba), e apenas postava uma saudação final e assinava as epístolas (Rm 16.22; 1 Co 16.21; Cl 4.18; 2 Ts 3.17; Fm 1.19); entretanto, parece que na urgência do assunto e na falta de quem escrevesse para ele, escreveu ele mesmo, com grandes letras, a carta aos Gálatas. Este fato pode indicar um problema visual grave.
A Bíblia relata muitos casos de “não cura”. Jesus, à beira do tanque de Betesda, aonde “jazia grande multidão de enfermos: Cegos, mancos e ressicados” (Jo 5:3), curou apenas UM PARALÍTICO. Pedro e João, à Porta Formosa, aonde se juntavam muitos doentes esmolando, curaram apenas um paralítico (At 3). No AT também vemos exemplos de pessoas, como Eliseu, cheias do poder de Deus mas que não “curaram a si mesmos”…
Não duvidamos da cura de Deus! Ele é poderoso para curar qualquer enfermidade, por mais simples ou mais terminal que seja! Conhecemos relatos de pacientes com câncer terminal foram completamente curados pelo poder de Deus, e conhecemos relatos de outros pacientes que não foram curados, mas morreram em decorrência da enfermidade. Deus é soberano! Contudo, oramos por todos os enfermos que nos pedem oração por cura, impondo-lhes as mãos, crendo que Deus pode curá-lo. O que não cremos é que Ele tenha a obrigação de curar TODAS as enfermidades sob as ordens dos homens! Ao contrário, cremos que a SOBERANIA dEle está acima de qualquer coisa! Ele é Senhor, e nós, Seus servos, meros cacos de barro!
Fonte: Do blog do http://www.genizahvirtual.com/2016/05/consideracoes-sobre-pessoas-nao-curadas.html