Breve Catecismo de Westminster – [Assembleia de Westminster]

A FÉ REFORMADA NA INGLATERRA

A história do movimento reformado na Inglaterra apresenta dois fenômenos com vastas implicações, um deles de caráter negativo e o outro, positivo. No aspecto negativo, a Inglaterra foi o primeiro país em que o calvinismo se dividiu em várias correntes, devido a diferentes entendimentos sobre a forma de governo da Igreja. O elemento positivo foi a realização da Assembléia de Westminster, que produziu os documentos doutrinários mais influentes da tradição reformada.


Até 1534, a Inglaterra foi solidamente católica romana. Naquele ano, o rei Henrique VIII rompeu com Roma e criou uma Igreja nacional inglesa, a Igreja Anglicana. Desde o século 14, com o pré-reformador John Wyclif e seus simpatizantes, os lolardos, havia surgido um forte movimento de valorização das Escrituras e protestos contra os desvios da Igreja Tradicional. Com o advento da Reforma Protestante, as idéias luteranas logo chegaram ao país. Todavia, algum tempo depois a fé reformada obteve maior aceitação.

Durante o reinado de Eduardo VI (1547-1553), filho e sucessor de Henrique, as influências reformadas se fizeram sentir de modo crescente. Martin Bucer, o reformador de Estrasburgo, passou os seus últimos anos na Inglaterra, e o reformador polonês Jan Laski foi pastor da Igreja de Estrangeiros em Londres. João Calvino correspondeu-se com Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária, com o rei Eduardo e com Somerset, o lorde protetor. Dois documentos fundamentais redigidos por Cranmer, o Livro de Oração Comum e os Trinta e Nove Artigos demonstraram claras influências reformadas.

Todavia, a marca mais profunda deixada pelo calvinismo na Inglaterra foi o movimento conhecido como puritanismo. Os puritanos eram os pastores e leigos calvinistas ingleses que insistiam que a Igreja Anglicana se tornasse mais “pura”, isto é, mais bíblica, em sua teologia, culto e forma de governo. Esse movimento produziu um vasto e duradouro impacto na sociedade inglesa devido às suas ênfases principais: estudo sério das Escrituras, pregação doutrinária e expositiva, valorização da experiência religiosa e da santificação, e uma visão abrangente da vida sob o senhorio de Deus.

No reinado de Maria, “a Sanguinária” (1553-1558), houve um vigoroso esforço no sentido de restaurar o catolicismo romano. Centenas de protestantes foram executados na fogueira e muitos outros se refugiaram no continente, em cidades como Zurique e Genebra. Sob Elizabete I (1558-1603) o anglicanismo adquiriu os seus traços definitivos, com a rejeição da teologia reformada. Os puritanos experimentaram uma repressão crescente por parte dessa poderosa rainha e de seus dois sucessores imediatos, Tiago I e Carlos I.

Infelizmente, em meio às tremendas dificuldades que enfrentavam, os puritanos ficaram ainda mais enfraquecidos por causa de sua falta de unanimidade na questão da forma de governo eclesiástico. Enquanto muitos deles eram presbiterianos, outros eram adeptos do sistema congregacional e alguns poucos queriam preservar o episcopalismo. O puritanismo atingiu o seu ponto culminante na década de 1640, quando os puritanos controlaram o parlamento inglês e convocaram a célebre Assembléia de Westminster.

A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER

O calvinismo inglês atingiu o seu ponto culminante com a realização da Assembléia de Westminster, de 1643 a 1649. As circunstâncias desse grande evento são deveras interessantes. 

O rei Carlos I reinou simultaneamente sobre a Inglaterra e a Escócia (1625-1649). Embora tivesse sido criado como presbiteriano, ele tornou-se um ferrenho defensor do sistema episcopal, como todos os reis da época, e tentou impor esse sistema à Igreja da Escócia. Os escoceses se rebelaram, assinaram um Pacto Nacional e entraram em guerra contra o rei. Necessitando de recursos para enfrentá-los, Carlos convocou eleições parlamentares na Inglaterra, que resultaram, para sua grande frustração, em um parlamento majoritariamente puritano, ou seja, calvinista. Diante das tentativas de Carlos no sentido de dissolvê-lo, o parlamento também entrou em guerra contra o rei.

Foi nesse contexto de guerra civil que o parlamento inglês convocou a Assembléia de Westminster para reformar a Igreja da Inglaterra (Anglicana). A Assembléia era composta de 121 dos ministros mais cultos e piedosos do país, além de 30 membros do parlamento. Os trabalhos tiveram início no dia 1º de julho de 1643, na majestosa Abadia de Westminster, em Londres. Pouco depois, o parlamento, enfrentando dificuldades na guerra contra o rei, precisou recorrer ao auxílio dos escoceses. Por exigência destes, os dois grupos assinaram um Pacto Solene, mediante o qual a Igreja da Escócia teve o direito de enviar alguns representantes à Assembléia, os quais influenciaram decisivamente o rumo dos trabalhos.

Ao longo de vários anos, esses pastores calvinistas, muitos dos quais presbiterianos, elaboraram de modo paciente e criterioso vários documentos importantes nas áreas doutrinária, litúrgica e administrativa. Esses textos, que ficaram conhecidos como os “Padrões Presbiterianos”, são os seguintes: o Diretório do Culto Público a Deus, a Forma de Governo Eclesiástico e Ordenação, a Confissão de Fé, os Catecismos Maior e Breve e o Saltério. Uma vez concluído pela assembléia, cada documento era enviado ao parlamento para discussão e ratificação. Com a aprovação oficial desses documentos, a Igreja da Inglaterra tornou-se presbiteriana.

Sob a liderança de Oliver Cromwell, as tropas parlamentares derrotaram o rei, que foi executado. Todavia, nos anos seguintes manifestou-se o ponto fraco do calvinismo inglês. Cromwell e o exército, assim como muitos ministros, eram congregacionais. Em 1660, a monarquia foi restaurada sob Carlos II e a Igreja da Inglaterra voltou a ser episcopal. Cerca de dois mil pastores presbiterianos foram expulsos de suas igrejas, seguindo-se um longo período de intolerância e cerceamento. Rejeitados na sua terra de origem, os Padrões Presbiterianos foram calorosamente abraçados pelos escoceses. Através da imigração e do esforço missionário, esses padrões, especialmente os de natureza doutrinária (a Confissão de Fé e os Catecismos), foram levados para a Irlanda do Norte, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Brasil e outros países. Por mais de 350 anos, eles têm sido os principais documentos confessionais aceitos pelos presbiterianos ao redor do mundo.

Alderi Souza de Matos
Instituto Presbiteriano mackenzie

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