Apesar do livro, Imitação de Cristo, ser uma obra católica e, portanto, conter doutrinas e conceitos anti-bíblicos, como por exemplo, a doutrina do purgatório, resolvemos postar o mesmo no site, pelo fato deste ser um verdadeiro manual de espiritualidade.
Aquele que é experimentado na Palavra de Deus está apto para analisar todas as coisas e reter o bem. O livro pode ser usado por todos aqueles que estão dispostos a crescer no discipulado radical. Pode inclusive, ser usado, seguindo as divisões de capítulos, como leitura diária devocional.
Bom Desfrute!!!
Capítulo XI
Da paz e do zelo da perfeição
1. De muita paz poderíamos gozar se não nos quiséramos meter com as palavras e ações dos outros que não são de nossa conta. Como poderá permanecer muito tempo em paz aquele que se intromete em negócios alheios, que procura dissipar-se nas coisas externas e dentro de si, pouco ou raras vezes, se recolhe? Bem-aventurados os simples porque terão muita paz!
2. Por que razão foram alguns santos tão perfeitos e contemplativos? Porque aplicaram-se seriamente a renunciar a todos os desejos terrenos e por isto puderam de todo o coração fixar-se em Deus e ocupar-se de si livremente. Nós, porém, deixamos levar-nos demasiadamente pelas próprias paixões e pela solicitude das coisas que passam; raras vezes vencemos um vício perfeitamente; não nos alentamos por fazer cada dia algum progresso: por isto, ficamos sempre frouxos e tíbios.
3. Se estivéramos inteiramente mortos a nós mesmos e menos embaraçados no nosso interior, poderíamos saborear as coisas divinas e ter alguma experiência da contemplação celestial. O maior, o único obstáculo é que não nos desvencilhamos das paixões e concupiscências nem nos decidimos a entrar no caminho perfeito dos santos. Mal surge uma pequena contrariedade, deixamo-nos logo entrar de desânimo e voltamos às consolações humanas.
4. Se nos esforçáramos, como varões fortes, por perseverar na luta, sentiríamos por certo que do céu desceria sobre nós o auxílio do Senhor; Ele está pronto a ajudar os que pelejam e confiam na sua graça e não nos proporciona as ocasiões de combate senão para que alcancemos a vitória. Se apenas nas observâncias exteriores ciframos o progresso da vida religiosa, em breve se extinguirá a nossa piedade. Levemos o machado à raiz para que, purificados das paixões, tenhamos a alma em paz.
5. Se cada ano extirpássemos um vício bem depressa seríamos perfeitos. Mas o que de fato experimentamos é muitas vezes o contrário: fomos melhores e mais puros no princípio da nossa conversão do que após muitos anos de professo. Todos os dias devera aumentar o fervor e o aproveitamento; mas, infelizmente, hoje já se tem por muito se alguém conserva parte do zelo primitivo. Se no começo nos fizéssemos um pouco de violência, tudo poderíamos fazer em seguida com facilidade e alegria.
6. Custoso é deixar o costume antigo; mais custoso ainda, contrariar a vontade própria; mas se não vences o pouco e o fácil como triunfarás do difícil? Resiste no princípio à tua inclinação e desfase-te do hábito mau para que, pouco a pouco, não te arraste talvez a maiores dificuldades. Oh! Se consideraras quanta paz desfrutarias tu e quanto prazer darias aos outros levando vida regrada, estou certo que serias mais solícito pelo teu progresso espiritual.
Capítulo XII
Das vantagens da adversidade
1. Bom é que, de quando em quando, passemos por sofrimentos e contrariedades, porque muitas vezes fazem o homem entrar em si, lembrando-lhe que vive no desterro e em coisa nenhuma do mundo deve por a sua esperança. Bom é que, por vezes, padeçamos contradições e de nós se não tenha boa estima, ainda quando são boas as nossas ações e intenções. Isto muito nos ajuda a ser humildes e preserva-nos da vanglória. Quando, fora, os homens nos desprezam e se não fiam de nós, procuramos com mais cuidado ter a Deus por testemunha do nosso interior.
2. Em Deus devera o homem de tal modo firmar-se que não precisasse mendigar tantas consolações humanas. Quando o homem de boa vontade é atribulado, tentado ou molestado de maus pensamentos, compreende melhor que Deus lhe é necessário e sem Ele nada pode de bom. Então se entristece, geme e ora pelas suas misérias. Pesa-lhe, também, o viver por tanto tempo e suspira pela morte para que possa, “livre dos laços do corpo estar com Cristo” (Filip. I,23). Então ainda se persuade que segurança perfeita e paz completa não pode haver neste mundo.
Capítulo XIII
Da resistência às tentações
1. Enquanto vivemos neste mundo não podemos estar sem trabalhos e tentações. Por isto está escrito no livro de Jó: “É milícia a vida do homem na terra” (Jó VII,1). Deve, pois cada qual estar sempre alerta sobre as tentações que o assaltam e vigiar e orar para que o não surpreenda o demônio que não dorme “mas ronda sempre à procura de quem devorar” (S. Petr. V, 8). Não há homem tão perfeito e santo que, de quando em quando, não tenha tentações; totalmente livres delas não podemos viver.
2. As tentações, porém, ainda que molestas e graves, são muitas vezes de grande utilidade para o homem; nelas se adquire humildade, pureza e experiência. Por muitas tentações e tribulações passaram todos os santos e com isto aproveitaram; os que não puderam resistir-lhes, sucumbiram e perderam-se. Não há Ordem religiosa tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades.
3. Enquanto viver, nenhum homem será de todo ao abrigo das tentações; porque, nascidos na concupiscência, em nós está a causa pela qual somos tentados. Quando se vai uma tentação ou tribulação, sobrevem outra; e assim teremos sempre que sofrer, uma vez que perdemos o bem da nossa primeira felicidade. Muitos procuram fugir às tentações e nelas caem mais gravemente. Só com a fuga não as podemos vencer; é a paciência e a verdadeira humildade que nos tornam mais fortes que todos os inimigos.
4. Quem evita somente as ocasiões exteriores e não extirpa o mal pela raiz, pouco aproveitará; antes, mais depressa voltarão as tentações e se achará pior. Pouco a pouco, com a ajuda de Deus, vencerás melhor, pela paciência e longanimidade, do que pela violência e azedume. Toma conselho mais vezes na hora da tentação; e não trates com aspereza a quem é tentado; mas consola-o como desejavas que fizessem contigo.
5. A causa de todas as tentações perigosas é a inconstância e a falta de confiança em Deus. Como o navio sem leme é joguete das ondas, assim o homem remisso e pouco firme nos seus propósitos é agitado por toda sorte de tentações. O fogo prova o ferro; a tentação, o justo. Ignoramos muitas vezes o que valemos, a tentação faz-nos ver o que somos. Cumpre, porém, vigiar, principalmente no princípio da tentação, mais fácil então é vencer o inimigo, se lhe fechamos logo a porta da alma e lhe resistimos apenas se apresenta fora do limiar. Por isto disse alguém: “Atalha no princípio; tarde chega o remédio se o mal, por longo tempo, fundas raízes lançou” (” Principiis obsta; sero medicina paratur Quum mala per longas invaluere moras ” – Ovidio).
Primeiramente apresenta-se à alma um simples pensamento, a seguir uma imaginação viva, depois a deleitação, o movimento desordenado e o consentimento. Assim, aos poucos, força de todo a entrada o inimigo maligno a quem logo lhe não resistiu; e quanto por mais tempo for a alma entorpecendo na resistência, tanto mais fraca ela vai ficando e mais poderoso o seu adversário.
6. Uns padecem tentações mais violentas no início de sua conversão; outros, no fim; alguns porém são atormentados quase toda a vida; há também os que são tentados com mais brandura; assim o dispõe a sabedoria e justiça da divina Providência que pesa o estado e os merecimentos dos homens e tudo ordena para a salvação de seus escolhidos.
7. Por isso, não devemos perder a confiança quando somos tentados, antes pedir a Deus com mais fervor que se digne ajudar-nos na tribulação. Ele, que segundo a palavra de S. Paulo, “com a tentação dará o auxílio para que possamos resistir-lhe” (I Cor. X, 13). Humilhemos, pois, as nossas almas sob a mão de Deus na tentação e na tribulação, porque os humildes de espírito, Ele os há de salvar e exaltar.
8. Nas tentações e tribulações vê-se quanto aproveitou a alma; nelas maior é o merecimento e melhor se manifesta a virtude. Não é lá grande valor ser o homem devoto e fervoroso quando nada lhe dá pena; esperança de muito aproveitamento haverá, porém, se suporta com paciência o tempo da adversidade. Alguns guardam-se das grandes tentações e são vencidos muitas vezes nas pequenas de cada dia, para que, humilhados, não presumam de si nas grandes ocasiões os que nas tão insignificantes fraquejam.
Capítulo XIV
Que se há de evitar o juízo temerário
1. Põe os olhos em ti e guarda-te de julgar as ações alheias. Julgando os outros o homem trabalha em vão, erra o mais das vezes e facilmente peca; julgando e examinando a si mesmo trabalha sempre com proveito. Julgamos freqüentemente das coisas conforme nos falam ao coração; porque o amor próprio turva facilmente a verdade dos nossos juízos. Se Deus fora sempre o único objeto de nossos desejos não nos perturbaríamos tão depressa quando contrariam a nossa vontade.
2. Há porém muitas vezes alguma razão oculta ou algum motivo externo que também em nós influi. Muitos, no que fazem, buscam secretamente a si mesmos, sem o saber. Parecem também estar em perfeita paz quando as coisas lhes correm à medida dos desejos; mal, porém, lhes não sucedem à vontade logo se perturbam e entristecem. Por causa da diversidade de sentimentos e opiniões, nascem freqüentes discórdias entre amigos e vizinhos, entre religiosos e pessoas piedosas.
3. É coisa difícil deixar um costume antigo e ninguém de boa mente renuncia ao seu modo de ver. Se confias mais em tua razão e habilidade do que na virtude que nos submete a Jesus Cristo, tarde e raras vezes terá a alma iluminada; Deus quer que a Ele nos sujeitemos perfeitamente, e, inflamados no seu amor, nos elevemos acima de toda a razão humana.
Capítulo XV
Das obras que procedem da caridade
1. Por coisa nenhuma deste mundo, nem por amor de quem quer que seja, se deve praticar o mal. É livre, porém, interromper uma ação boa ou substituí-la por outra melhor para prestar serviço a quem precisa; assim não se destrói a boa ação mas transforma-se em outra de maior valor. Sem a caridade de nada vale nenhuma obra exterior. Tudo, porém, o que dela se inspira, por pequeno e desprezível que seja, produz abundantes frutos: mais que a ação, Deus pesa a intenção.
2. Muito faz quem muito ama. Muito faz quem faz bem. Bem faz quem serve ao interesse comum mais que à vontade própria. O que muitas vezes parece caridade é concupiscência: porque raras vezes, a inclinação natural, a vontade própria, a esperança de recompensa, o amor às comodidades deixam de influir em nossas ações.
3. Quem possui a verdadeira e perfeita caridade não busca a si em coisa alguma mas seu único desejo é que em tudo se realize a glória de Deus. A ninguém inveja, porque não aprecia nenhum prazer particular nem em si mesmo quer alegrar-se, mas, em Deus, acima de todos os bens, coloca a sua felicidade. A nenhuma criatura atribui bem algum, mas tudo refere a Deus, fonte perene, donde promanam todos os bens, fim beatífico, em que descansam todos os santos. Oh! quem tivera uma centelha de verdadeira caridade! como lhe pareceriam vãs todas as coisas da terra!
Tomás de Kempis, também conhecido como Tomás de Kempen, Thomas Hemerken, Thomas à Kempis, ou Thomas von Kempen (Kempen, Renânia, 1379 ou 1380- 25 de julho de 1471, mosteiro de Saint Agnetenberg, Zwolle) Monge e escritor alemão, Tomás de Kempis nasceu em 1380, em Kempen, na Renânia do Norte (perto de Colónia), faleceu a 24 de julho de 1471, no Mosteiro de Santa Inês.
Nota Importante: As nossas próximas postagens nós estarem compartilhando com os amados irmão o livro Imitação de Cristo, apesar do livro Imitação de Cristo ser uma obra católica e, portanto, conter doutrinas e conceitos anti-bíblicos, como por exemplo, a doutrina do purgatório, resolvemos postar o mesmo no site, pelo fato deste ser um verdadeiro manual de espiritualidade. Aquele que é experimentado na Palavra de Deus está apto para analisar todas as coisas e reter o bem. O livro pode ser usado por todos aqueles que estão dispostos a crescer no discipulado radical. Pode inclusive, ser usado, seguindo as divisões de capítulos, como leitura diária devocional.